9:08Um viva para o Serapião!

por Célio Heitor Guimarães

Como diz Milton, “amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, junto do coração”. Ruben Alves completava: “A amizade tem as suas raízes na eternidade. Um amigo é alguém com quem estivemos sempre”.

Tenho poucos amigos. Mas são amigos de verdade, daqueles que se quer bem, com quem é bom estar junto e melhor ainda saber que existem.

Um desses amigos é o Márcio Augusto Nóbrega Pereira, do qual já fui colega de profissão e vizinho de sala. Quase todos os dias, ele me agraciava com uma mensagem de fé e esperança, dessas que circulam na internet entre pessoas que se consideram e estimam. Uma delas, depois de lê-la para o meu então pequeno Eduardo e, tempos depois, para minha neta Fernanda, guardei com carinho, para ler, algum dia – quem sabe? –, para o meu bisnetinho Bernardo, ainda na flor dos sete meses.

Fala de Serapião, um velho mendigo, que perambula pelas ruas da cidade, tendo sempre ao seu lado, um fiel escudeiro, o cão vira-lata que atende pelo nome de Malhado.

Serapião não pede dinheiro. Aceita sempre um pedaço de pão, uma banana ou sobras de comida dos mais afortunados. Quando suas roupas estão imprestáveis, alguma alma caridosa sempre o socorre.

Ele é conhecido como um homem bom, que a vida fez perder a razão, a família, os amigos e até a identidade. Não bebe álcool nem fuma. Está sempre tranquilo, mesmo quando não há nada para comer. Acha que Deus sempre lhe dará alguma coisa na hora certa, ou quando Deus determinar, alguém lhe estenderá uma porção de alimento.

De tudo o que recebe, Serapião dá sempre algo para o Malhado, que, paciente, come e fica ali esperando por mais um pouco.

Serapião e Malhado não têm onde dormir; dormem onde anoitecem. Quando chove, procuram abrigo debaixo de uma marquise ou de uma ponte.

Aquela figura sempre deixou o autor anônimo desta história que o Márcio capturou na internet imaginando como aquela vida vegetativa, sem direção nem esperança, podia prosseguir.

Um dia, com a desculpa de oferecer uma bananas ao mendigo, ele foi bater um papo com Serapião. Iniciou falando do Malhado, perguntou pela idade dele, que Serapião não sabia dizer. Não tinha ideia, pois os dois se encontraram numa ocasião em que ambos andavam pelas ruas:

— Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço. Ele agradeceu abanando o rabo. Aí, não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu retribuo.

Curioso, o homem perguntou como era essa ajuda recíproca.

— Ele me vigia quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele late e ataca. Quando ele dorme, eu fico vigiando – contou Serapião.

Foi então que o narrador indagou ao mendigo:

— Serapião, qual o seu grande desejo na vida?

— Gostaria de comer um cachorro-quente, daqueles que o Zezé vende ali na esquina.

— Só isso?

— Sim. No momento, é só isso que eu desejo.

O interlocutor foi à esquina, comprou o cachorro-quente e entregou-o ao mendigo. Serapião arregalou os olhos, deu um sorriso e agradeceu a dádiva. Em seguida, tirou a salsicha do sanduíche e deu-a para o Malhado, passando a comer o pão com os temperos.

— Mas você deu para o Malhado logo a salsicha, o melhor do cachorro-quente!… – exclamou o homem.

— Sim, o melhor pedaço é sempre para o amigo – respondeu Serapião. E continuou comendo alegremente o pão com os temperos.

Valho-me desta historinha (com um especial agradecimento ao autor não identificado) para desejar a todos aqueles que têm tido a paciência de acompanhar estas mal traçadas, muita paz, saúde e harmonia durante o novo ano que inicia. Conhecidos ou não, é muito bom ter amigos ou ser considerado por eles como tal.

P.S. – Com esta coluna, o colunista entra em recesso. Não vai visitar o irmão, como mestre Zé Beto, porque enquanto o Ricardo mora na bela Palmeira dos Índios, ali nas Alagoas, o meu mora um pouco mais longe e para chegar a ele preciso continuar na lista de espera, com o bilhete na mão…

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