18:20ZÉ DA SILVA

Tomei um copão de vinho de garrafão, daqueles de deixar a boca e a língua coloridas – mas antes comi uma rabanada. Há 60 anos. Morava no cortiço, mas tudo limpinho. Os homens eram operários. As mulheres, costureiras. Os filhos… seja o que que deus quiser, porque era preciso cuidar dos que levavam marmita todo dia para o batente e seguravam a sobrevivência de todos. Televisão era luxo. Mas neste primeiro porre, aos 6 anos, encasquetei que queria assistir a corrida de São Silvestre na passagem do ano. Naquele tempo a prova começava à meia-noite. Acharam uma vizinha que tinha o aparelho de tubo grande e imagens em preto e branco. Me levaram. Fiquei esperando sentado no tapete no chão da sala. Não conhecia aquela família. Tudo rodava. Me tornei inesquecível para eles. Logo depois da largada, chamei o Ugo. Lavei o tapete. Depois, meu primeiro apagamento oficial. Me levaram pra casa, deram banho de cuia com a água do poço. Acordei no outro dia e aí lembrei da lambança. Parei de beber. Por quase 20 anos. Voltei – e quase morri. Depois do milagre, fiz o que tinha de fazer: fui a São Paulo e corri a São Silvestre. A medalha de participação está guardada com carinho.

Uma ideia sobre “ZÉ DA SILVA

  1. SERGIO SILVESTRE

    Pois é,imagine um leito de morte,alguém te molha os lábios por que tem sede,te da´aquele doce de mamão verde que sempre gostou,vem o derradeiro afago dos filhos e netos e o choro da companheira de tantos anos.
    Que merda é o sentimento,nós humanos deveríamos ser privados disso,para quem vai nada mais importa,mas o sofrimento de quem fica.
    Mas enquanto estamos por aqui ,eu pensei quando jovem que o mundo acabaria em 2000,contava os dias meses e anos com esse temor,depois já mais cabreiro,com aquela troça que o mundo acabaria em 2012,mas como já estamos quase em 2020,quem sabe a turma do Bolsonaro acabe com parte dele,fico aqui perto da fronteira com o Paraguai,qualquer coisa corro para a ponte .
    FELIZ ANO NOVO PARA O JB E FAMILIA E OS AMIGOS QUE BATEMOS UM PAPO QUASE TODO DIA.

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