Não precisava da bíblia, porque era a própria. Na parte que interessa. Mas fui lá e comprei na igreja. Enorme, pesada para um menino que parecia ter apenas a cabeça – enorme. Capa marrom, lembro, letras em dourado. Como carreguei, não sei. Era Natal e em casa ninguém ganhava nada porque eles também não ganharam quando crianças nascidas lá no oco do mundo seco. No dia seguinte, vizinhos se esbaldavam com o que o tal papai noel deixava embaixo das camas. Um tico-tico, revólver e cartucheira do patrulheiro toddy, a boneca que chorava ao ser deitada. Sempre confundi as datas e a crucificação do menino Jesus se mistura com o nascimento. Questiono a ausência de Maria Madalena nos presépios – porque tanta informação importante na cabeça da gente poderia até tirar o gosto da rabanada. Não sei onde foi parar aquele livro. Mas o que também ficou marcado, é que, mais ou menos por aquela época, a senhora de rosto triste e olhar acolhedor um dia parou, me olhou e sacramentou meu futuro ao sentenciar: “Tem uma cara de puta santa….”