19:15ZÉ DA SILVA

Paciente e psicólogo no consultório. O caso, doutor, é que tenho dupla personalidade, diz o apavorado na primeira consulta. Não tem problema, vamos sentar e conversar nós quatro, responde o terapeuta. A piada não é nova, mas quem não ri merece ser internado. Ouvi outro dia, rolei no chão às gargalhadas – e depois fiquei pensando que, se fosse eu o personagem, qualquer um dos dois, teria de remarcar o encontro para o Maracanã. Essa não é para rir. É de chorar. Isso é o que estou fazendo agora, porque não sei quem está escrevendo. A única certeza que tenho é que a carcaça é uma só, está se modificando e, na descendente, despencando. Outro dia me abaixei para salvar o último fio de cabelo, um que estava resistindo entre as sobrancelhas. Quando ele flanou iluminado pela luz de um janelão, eu era alguém. Quando o achei, era ninguém. Quando o colei no lugar original, gritei gol como se fosse uma multidão. E então, doutor, o que é que eu faço? Melhor colocar a camisa de força para se sentir mais confortável.

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