Do analista dos Planaltos 

O acordo de delação fechado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral com a Polícia Federal tira o sono de muita gente do andar de cima. E até de jornalistas que passaram a criticar o que viram e o que não viram. O que se sabe é que o acordo não envolve benefícios como a redução de pena (Cabral já tem condenações a 268 anos de prisão!). Logo, a pergunta que se impõe neste momento é: afinal, quem tem medo das revelações de Cabral?

A resposta é de múltipla escolha. Diz-se, a boca pequena porque os termos estão em sigilo, que a delação traz para o cadafalso nomes do STJ, do TCU e outros maganos que até agora passaram ao largo.

Se é para passar o Brasil a limpo, como dizia Bóris Casoy há décadas, vamos à guerra com todos os seus horrores. Até agora, os processos têm sido seletivos. Não há como negar que os alvos têm sido previamente escolhidos, sem que se conheça a fundo todos os envolvidos ou que a culpa de cada um seja devidamente apurada e provada.

Até o procurador geral da República, Augusto Aras, entrou na onda de rejeitar a oferta de Cabral. Antes dele, os próprios integrantes da Lava Jato e do Ministério Público Federal tinham desdenhado das revelações cabralinas.

Para se contrapor, oferecem uma explicação rasa. Cabral já seria o chefe da organização criminosa e não poderia terceirizar esse posto. Na verdade, não se trata de terceirizar, mas de alcançar todas as peças desse tabuleiro, sejam elas torres, cavalos ou rainhas.

Só por isso, a delação de Cabral pode não motivar os doutores, mas certamente interessa ao Brasil que não tem compromisso com o erro de ninguém.