De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário
A SEGURADORA liga para oferecer o programa Idoso Feliz. Isso não se faz. Idoso feliz não existe. Existe idoso resignado, conformado, desesperado, puto da cara, azedo, irritado – tudo bem longe do feliz. Idoso que se diz feliz, mente, com todo o respeito. Feliz com quê? Tem achaques, pressão alta, diabetes, problema de próstata, medo de passar fome com as reformas de Bolsonaro – e se for paranaense, de Ratinho e seus deputadinhos amestrados. Feliz?
O HORIZONTE, encurtado, visível ali na esquina, que felicidade há nisso? A seguradora que desse outro nome, nunca o infeliz feliz. Feliz, isso é coisa de brasileiro com essa sem-cerimônia irresponsável de brincar com as palavras, tirando-lhes o sentido. Felicidade não existe, é ilusão, utopia, sonho. Alguém disse uma vez, jamais conferi, que a diferença entre o judaísmo e o cristianismo está na noção de felicidade. Para os judeus não existe a felicidade. Eles valorizam a alegria.
DÁ PARA ENTENDER, são o povo eleito do Deus que fez de sua vida um inferno. Quando Deus lhes dava uma folga, respiravam aliviados. A isso chamavam alegria, nunca felicidade. Aliás, o que mais encontro é judeu alegre. Nunca vi um judeu feliz, todos carregam um travo de melancolia. Felicidade pressupõe estado duradouro, de constância indefinida. A alegria, não: tem momentos, pode se estender, mas nunca o tempo da felicidade idealizada.
NÃO DEI TRELA para os callcentristas da seguradora. Pessoas educadas, gentis, não ia encher-lhes o saco como encho o de vocês. Apenas ri ao telefone. Devem ter pensado “aí está um idoso feliz”. Errados. O idoso riu para não chorar. As hienas provam que riso não significa nem alegria nem felicidade. Não vou gastar dinheiro com a seguradora, que diz que o programa não custa nada. Isso também machuca o idoso infeliz: ser tratado como idiota.