De Rogério Distéfano, no blogO Insulto Diário

O PREFEITO RAFAEL GRECA exalta sua extravaganza natalina: fogos de artifício (“existem há cinco mil anos e eu sempre adorei”), o carrossel do Passeio Público, com o maior carrinho de supermercado do mundo, a “maior” árvore de Natal de Curitiba”, no Parque Barigui. Feitos do maior prefeito de Curitiba, colaboração “de empresas amigas de Curitiba”.

NOSSO PREFEITO é o Dorian Gray caigangue: o original não envelhecia por fora, Greca não envelhece por dentro. Fosse prefeito de Roma, punha fogo na cidade para celebrar sua glória. Que ele goste de Natal, não faz mal, os natalinos de Curitiba agradecem. O que se questiona são duas coisas, sobre as quais o prefeito passa por cima, à moda de compactadora de asfalto.

A PRIMEIRA COISA: quanto a prefeitura gasta nisso? Não há despesas ou necessidades públicas prementes e prioritárias a serem atendidas? Sim, o prefeito, menino bem nascido, ama o Natal. Sorte nossa que ele não ama o coelho da Páscoa, o dia de Finados, e outras datas para gastar dinheiro importante, em medida excessiva, para atender seu senso infantil do lúdico.

A SEGUNDA COISA: as tais “empresas amigas de Curitiba”, a quem o prefeito enaltece pela colaboração nos equipamentos de Natal. Bonito, mas essa colaboração foi feita para que elas fizessem sua propaganda: Shopping Barigui, Condor Supermercados, entre outros. São como aquelas amigas de Facebook, que aparecem mais que a titular do Face.

O CAPITALISTA BRASILEIRO não é generoso ou altruísta. Se dá alguma coisa exige reciprocidade: o subsídio da importação, a isenção do imposto, o voto do deputado e o favor da estatal – alguns chamam de propina e corrupção. O capitalista da Luz dos Pinhas, as “empresas amigas” de Rafael Greca, fazem merchandising com seus “presentes” à cidade.

ESSA AMIZADE apregoada pelo prefeito é amizade dele com as empresas, não das empresas com a cidade. Sempre foi assim, ele não inventou. Mas sendo tão poderoso e onisciente poderia ao menos mudar. Que nada, o time funciona bem, ganha jogos e tem o campeonato à vista. Então siamo tutti amici, como dizem aqueles sicilianos.

TAIS AMIZADES têm-nos custado caro. O prefeito Fruet liberou a construção de um imenso supermercado no antigo Hospital Espírita da Nilo Peçanha. A cidadania ativa tem bloqueado a construção, que fatalmente sairá. Mas prefeitura de Greca pagou a fatura do outro prefeito: a fixação de dois binários, mãos únicas na Mateus Leme e na Nilo Peçanha.

AS MÃOS ÚNICAS não vieram atender nenhum reclamo ou pleito dos moradores, empresas e usuários. Usou-se o pretexto do desafogo viário: uma traz o povo de Almirante Tamandaré, outra leva o povo para Almirante Tamandaré. Binário é coisa boa, evita atropelamentos em cruzamentos de dois semáforos, dois outros pontos desguarnecidos.

BINÁRIO veio depois da venda da área do Hospital – demolida às pressas para restrição urbanística. Facilitará entradas e saídas no supermercado. O resultado, efeito Walmart: quebra, mudança e encerramento de empresas, mais intensa na Nilo Peçanha. Entre elas a Família Sfiha, morta pela Nilo Peçanha, que fechará depois de 15 anos de funcionamento.