Do Analista dos Planaltos
A reforma da Previdência Estadual tem motivado os mais variados comentários e análises, inclusive aqui, neste blog. Alguns textos, de tão desinformados, seriam apenas patéticos se não trouxessem a tiracolo o objetivo inconfessável de manter privilégios e passar a conta pro contribuinte. Exatamente como vem acontecendo até hoje. Mas nem sempre se deve acreditar em mexericos.
Pra começar, especula-se com o déficit projetado da Paraná Previdência, estimado em estratosféricos bilhões de reais. Como se os pagadores de impostos tivessem que suportar mais esse ônus. Funciona como uma espada sobre a cabeça do governante de plantão.
Depois, reage-se à proposta de aumento da alíquota de contribuição, de 11% para 14%, como se o equilíbrio do sistema caísse do céu – ou viesse, mais uma vez, dos pagadores de impostos. Não há milagre. Pra alguém receber salário integral na aposentadoria, muitos outros terão que pagar.
Ataca-se ainda a gestão anterior, que promoveu a transferência de 33 mil aposentados do Fundo Financeiro (leia-se Tesouro Estadual) para o Fundo Previdenciário (leia-se Paraná Previdência). Todos eles com mais de 73 anos de idade. Desde então, muitos já morreram e deixaram de receber seus proventos.
Essas mesmas vozes calaram-se quando, em 2012, o Estado absorveu cerca de 18 mil aposentados do Fundo Previdenciário, para dar “equilíbrio atuarial” à Paraná Previdência. Foi uma maravilha. O caixa previdenciário ficou no azul e o caixa do Estado, no vermelho. A mudança foi um erro, mas como era a favor dos barnabés, ninguém protestou.
Refeitas as contas, o Estado ainda continua aportando bilhões para o pagamento de aposentadorias e pensões de seus servidores. No ano passado, foram R$ 5,4 bilhões. Neste ano, serão R$ 6,3 bilhões. E por que o Estado faz isso? Ora, porque as contribuições patronais e de servidores são insuficientes para pagar proventos e pensões. Simples, assim.
E por que isso acontece? Porque até agora, e entre outras coisas, o servidor se aposenta com salário integral. Ao contrário dos mortais comuns, submetidos ao teto geral de benefícios do INSS. Sem falar no cálculo que apura a média salarial para o trabalhador da iniciativa privada. São usados 80% de todos os salários recebidos, corrigidos monetariamente, desprezando-se os 20% de menor valor. Depois, tira-se a média para definir o valor dos proventos. Assim, nunca será o último salário recebido na ativa.
Já os servidores públicos contribuíram para a sua aposentadoria proporcionalmente ao salário que recebiam na ativa. Mas é evidente que não há conta que feche quando se considera que ele ingressou no setor público como humilde funcionário, fez carreira, foi promovido, ganhou benefícios, aumentos salariais e, quando se aposentou, no auge, garantiu o último salário da ativa como provento. Nesse modelo, a contribuição previdenciária jamais será suficiente para suportar tamanha ousadia.
É por isso que ainda se cobra contribuição previdenciária do aposentado que ganha acima do teto geral do INSS. Para compensar o fato de ele não ter recolhido, durante todo o tempo trabalhado, o valor correspondente ao último salário, base da aposentadoria.
Mais: o desconto previdenciário para inativos afeta apenas a parcela que excede o teto geral do INSS, de R$ 5.839,45. Ou seja, quem reclama são exatamente aqueles que mais ganham. São eles os grandes críticos da reforma.
Ainda assim, podem dormir tranquilos. Se a crise se aprofundar e não houver dinheiro para pagar as despesas públicas, os aposentados terão prioridade sobre os demais compromissos. Pode até haver calote em fornecedores e atraso de salários dos servidores da ativa, mas os aposentados estão garantidos na Constituição.
ResponderEncaminhar |
Como se sentiria o articulista ao entrar para um jogo com as regras definidas com antecedência e, sem qualquer participação sua, fossem essas regras modificadas durante o jogo? Também é preciso mencionar que a gestão do Fundo ao longo do tempo foi feita por “indicados do poder da ocasião”, com qualificação mais que duvidosa. Isso sem contar que a parte patronal NUNCA foi feita na forma necessária e no tempo certo, portanto, creditar aos supostos “privilegiados” a derrocada do Fundo é no mínimo uma baita sacanagem!!!
Além do que, Orbi, não há como comparar a previdência do serviço público com a do INSS. São contribuições diferentes, vantagens diferentes e aposentadorias/pensões diferentes. Aliás, o que é injusta, desumana e absurda é a previdência paga pelo INSS.
É claro, como diz o analista, que os servidores contribuem (ou contribuíram) para a aposentadoria com base nos salários que percebem (ou percebiam) na ativa. E nem poderia ser diferente. No entanto, fossem (ou tivessem sido) esses valores devidamente aplicados e geridos pela Administração Pública, com a correção monetária, juros, etc., mais a contribuição patronal mensal, que há muito não é feita, tais valores corresponderiam ao que os servidores tem (ou teriam) direito a receber, como proventos ou pensões, 35 anos depois. É também claro que o equilíbrio do sistema previdenciário não cai do céu, mas precisa ser gerido com competência, seriedade e probidade.
Por derradeiro, o presente analista deve ser discípulo de Jaime Lerner, que, quando instalado no trono do Iguaçu, achava que os males na Administração Pública estava na presença dos velhinhos e das velhinhas do sistema previdenciário estadual.
Onde se lê, no meu comentário anterior, parte final, “estava na presença”, leia-se, por favor “estavam na presença”.