O grito, de pavor. Um cachorro latiu, lá longe. O gato, perto, pareceu ter levado por um chute. Drácula estava no ar dentro da sala de filme de David Linch. Não havia janela. No sofá verde, sob iluminação fraca, uma mulher não sentia o perigo. Como eu conseguia me ver, era um mistério como todo o resto. Meu rosto, branco. Mais para Cristopher Lee do que Bela Lugosi. Mas era eu mesmo, com sede de sangue – e sem querer estraçalhar a carótica sob a pela macia e clara. Vício. Tentei evitar. As unhas, mais parecidas com a do Zé do Caixão, arranharam as paredes lisas. Pousei suave no tapete escuro no meio da sala. Ela olhou pra mim. Todos os traços femininos de uma existência de observação e devoção estavam concentrados ali. Dei um passo. Parei. Havia um jeito de acabar com aquilo. Fiz o sinal da cruz em mim mesmo. Aí, gritei – e acordei com um gosto amargo na boca.
Pra ficar ruim, precisa melhorar à beça.