Da FSP
Horacio Cartes é suspeito de ter ocultado seu patrimônio por meio do doleiro Dario Messer
O ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes é alvo nesta terça-feira (19) de um mandado de prisão expedido na Operação Patron, desdobramento da Lava Jato do Rio de Janeiro.
Ele é suspeito de ter auxiliado com US$ 500 mil o doleiro Dario Messer, enquanto estava foragido da Justiça brasileira, entre maio de 2018 e julho deste ano, quando foi preso.
Messer ficou boa parte deste período no Paraguai, país governado por Cartes até agosto do ano passado. O ex-presidente foi incluído na difusão vermelha da Interpol.
De acordo com o Ministério Público Federal, Dario enviou uma carta ao ex-presidente —a quem chamava de “patrão”— solicitando os valores para gastos jurídicos.
O intermediário desta entrega, segundo a Procuradoria, foi o empresário brasileiro Roque Fabiano Silveira, condenado pela Justiça por contrabando que vive no Paraguai.
Cartes é amigo de longa data de Dario Messer, a quem chamava de “irmão de alma”. O ex-presidente manteve relações próximas com o pai do doleiro, Mordko Messer, que o ajudou na década de 1990, quando esteve na mira da Justiça por evasão de divisas.
O juiz Marcelo Bretas expediu 17 mandados de prisões preventivas e 3 temporárias. Há ainda 18 mandados de busca e apreensão a serem cumpridos.
Outro alvo é a advogada Maria Letícia Bobeda Andrada, apontada como filha do senador paraguaio José Manuel Bobeda.
Segundo as investigações, ela recebeu valores para pagar propina a autoridades paraguaias enquanto Messer estava foragido no país.
“Com o fito de corroborar suas afirmações a autoridade policial assinala que constam todos os diálogos travados entre Leticia e Dario, nos quais eles debatem sobre o suborno de US$ 2 milhões ao Ministro do Interior, sobre o possível encontro com o senador paraguaio Sergio Godoy e sobre os valores acautelados com a advogada para utilização”, escreve Bretas em sua decisão.
Também é alvo da ação Myra Athaide, namorada de Messer e responsável pela casa em que o doleiro foi preso em julho deste ano.
O doleiro Najun Turner também é alvo e já foi preso em São Paulo.
Segundo a Polícia Federal, a investigação identificou cerca de US$ 20 milhões ocultados, sendo US$ 17 milhões num banco nas Bahamas e o restante no Paraguai.
Eduardo Campos, presidente do banco Basa, propriedade de Cartes, afirmou à imprensa paraguaia que o ex-presidente não teve contato com Messer enquanto ele era procurado pela Justiça.
“O mandado é supostamente por [Cartes] ter colaborado com a fuga ou ajudado a esconder Darío Messer. Realmente é surpreendente, porque não houve nada disso. Nem sequer contatos ou reuniões com Messer. Horacio Cartes está com a consciência tranquila”, disse, à Rádio Universo.
O ex-presidente é um dos empresários mais ricos do país. É dono de bancos e empresas que atuam na área do tabaco.
Havia queixas e denúncias de outros países, como Colômbia e México, de que os cigarros paraguaios piratas, muitos deles fabricados pelas empresas de Cartes, estavam entrando ilegalmente em seus países.
Nos anos 1980, ele foi preso por evasão de divisas e, em 2011, o Wikileaks revelou que os EUA investigavam suas relações com um esquema internacional de narcotráfico e lavagem de dinheiro.
Um de seus bancos, o Amambay (hoje chamado de Basa), foi investigado por uma comissão parlamentar brasileira em 2004. a partir de dados enviados pela DEA, o departamento de combate às drogas dos EUA.
Cartes também se envolveu com o futebol. Foi presidente do Libertad de 2001 a 2013, um dos principais clubes do Paraguai. E foi dirigente na Associação Paraguaia de Futebol.
O paraguaio deixou a presidência em agosto do ano passado com baixa popularidade, com apenas 18% de aprovação. Ele tentou, sem sucesso, aprovar uma emenda constitucional que o permitisse concorrer à reeleição. Denúncias apontaram que ele apresentou assinaturas falsas.
Pela lei paraguaia, o ex-presidente assume o cargo de senador, mas sem direito a voto.
Em agosto, o atual presidente, Mario Abdo Benítez, foi alvo de uma tentativa de impeachment, pela acusação de ter fechado um acordo com o Brasil para a divisão da energia de Itaipu que prejudicaria o Paraguai. Na ocasião, Cartes foi um dos avalistas da permanência de Benítez, e usou sua força no Congresso para ajudar a barrar o processo.