Recebi a carta pelo correio. Só havia uma frase. Está tudo bem. Sem remetente. Envelope daqueles com borda verde e amarela. Como pode estar tudo bem, se não conheço quem traçou a linha? A partir daquele momento pensei em todas as pessoas conhecidas. Vivas e mortas. Por que o mistério se me conhecia bem? Conhecia porque sabia que eu esqueceria tudo para ficar tentando descobrir quem escreveu, mas, principalmente, por que escreveu. Se estava tudo bem, pra que escrever – e por que se esconder na pior forma do anonimato, a do bilhete enfiado embaixo da porta? Não saí mais de casa. A comida acabou. Passei a me alimentar do mato que nasceu no terreno dos fundos. Esta tudo bem. Ora, essa! Quando a polícia entrou eu estava caído no chão da sala e olhando para debaixo do sofá encardido. Repetia que não, não estava tudo bem. Me salvaram. Na UTI apenas uma pessoa me visitou. Só ouvi a voz no meu ouvido. “Agora sim, está tudo bem”, disse. Ninguém me informou a quem ela pertencia. Ainda procuro.