10:11Minúsculo versus maiúsculo

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

O PÊNDULO INEXORÁVEL da vida fez o movimento contrário. Estava desse lado quando o escândalo da Lava Jato levou ao descrédito o petismo e seu líder máximo, seu messias, à prisão. No movimento para o lado oposto, deu ares de salvador a outro, de nome Messias, que logo ocupou posto e posição do messias de inicial minúscula e suas criaturas.

Junto, e por causa, vieram com o Messias os algozes do messias, plenos de autossuficiência e arrogância. Abra-se espaço para estes, juiz e procuradores da Lava Jato, que ao serem expostos ao escândalo que criaram, acionaram, acelerando, a volta do pêndulo ao ponto original. Quando aplicaram, ainda que atenuado, mas com igual eficiência, o espírito da delação premiada aos juízes dos tribunais superiores.

Os algozes tantas fizeram que colheram apoio da imprensa, valorizaram o Messias, um deles juntando-se a ele, grangeando votos decisivos para o eleger. Ídolos da opinião pública e do eleitor indignados com a corrupção petista, emparedaram o STF, que aceitou que salteadores do Estado fossem presos antes de esgotada a interminável litania dos recursos que, na velocidade das tartarugas, leva à impunidade pela demora.

Outros escândalos deram ímpeto ao pêndulo, reforçando o movimento iniciado pelo escândalo da Lava Jato: o despreparo e destempero do Messias, o comportamento delinquente de seus filhos, o desmantelamento espontâneo de seu partido. Esse contraponto, digam até o contrário os amantes da leitura leguleia do fenômeno do momento, tem peso decisivo contra resposta dialética aos senões que levaram à desgraça o messias do eme pequeno.

O resultado surgiu ontem, no STF, agora liberado – apenas pela metade e engrossado no voto do presidente, ex-acólito do messias minúsculo: o pêndulo oscila para o ponto de origem (assim falamos apenas no sentido pendular), para o confronto entre o messias minúsculo na vida e o messias maiúsculo na vida. O estalinista que vive no âmago petista verá aqui a dialética marxista. Como leitura do fato, vale.

O movimento do pêndulo dirige-se ao ponto oposto. Vai lá ficar? Quem afirmar que sim, especula sem responsabilidade. Com um mínimo tentativo de previsão pode-se dizer que o pêndulo, como o do relógio parado, não ficará imóvel no centro – como seria até desejável no quadro  conturbado que vivemos e se nos antecipa. De tudo, surpreende apenas uma coisa: a rapidez. O Efeito Bolsonaro, pode-se até especular.

Tudo indica que o pêndulo ficará instável, desenfreado como o do relógio-cuco quando crianças travessas decidem brincar com ele, acabando por destruir o aparelho. E crianças travessas não faltam no lado que marca as horas do Messias, o maiúsculo-minúsculo. A dúvida está em se o messias minúsculo-maiúsculo seguirá o método de confronto – “estarei mais ainda à esquerda” -, como antecipou.

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