Carlos Drummond de Andrade
de Nilson Monteiro
Por que me olhas, anjo torto,
deste outubro miserável
que me espeta o cérebro?
De sua lucidez luzidia
estás a inquirir-me
sobre os dias
que virão ou que vivo?
Por trás de fundos de garrafas
talvez me lembre
que nossos aniversários
são comemorados nessas folhinhas,
mas seus ossos já não batem palmas e
minhas carnes tampouco sentem vontade
de levantar asas derriçadas
Uma vida besta segue por todas
as cidades dessas margens,
tristes e incapazes de mudar rumos,
a olhar o Rio Amargo nos levar para
oceanos de incapacidades, desastres
e dores
Por que me olhas, anjo torto,
se estou também torto
a procurar versos
que me expliquem o
mundo que habita os homens,
as cavernas que escondem?
Sei que estou triste:
os homens pouco ou nada
aprenderam desses dias
e de suas letras,
enquanto ditadores riem com cáries arreganhadas
em marés furiosas a fingir o branco da paz.
Será desígnio divino, poeta?
Se você encontrar o Lima por ai,
meu anjo, dê-lhe um beijo doce
em nome de um bruzungandense jururu.
*No Dia Nacional da Poesia
Convém lembrar a todos que a Lei que instituiu este dia é do senador paranaense Alvaro Dias.
Escreves cada vez melhor, Nilson…beijo grande