De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

“PRECISO TE APRESENTAR meu traficante”. Era Zé Beto, do blog homônimo, que passava o telefone de José Marino de Oliveira. ZB, combatente e ex-votista do álcool e da droga, a indicar traficante? E com nome e telefone? Passado o impacto, explicou: “é o meu livreiro, atende em domicílio”. Segui a indicação e fiquei viciado no produto de Marino.

Foi livreiro de loja e hoje atende distribuidoras. Homem distinto, elegante, tom suave, gentil e atencioso na conversa, tem a qualidade extinta dos livreiros, que sobrevive nos editores: ele conhece o que vende, por dentro e por fora das capas. Se não leu, sabe o que contém, faz as referências cruzadas com obras anteriores e correlatas.

Traficante do bem, não fornece grátis a primeira dose para criar dependência. Marino cobra o preço de livraria, no entanto oferece comodidade maior que as livrarias virtuais: ele tem um robot na cabeça, que capta e filtra o gosto e a tendência de leitura do cliente. Desde a primeira lista de compras ele passa a encaminhar fotos e títulos de livros.

Nada invasivo, intrusivo ou obstrusivo. Não é a vendedora da Avon nem a moça do call center filantrópico que nos atormentam. Você diz a ele, “Marino, gastei demais, a mulher já viu a conta, falamos em três meses” – o tempo das prestações de pagamento. Dizia que Marino não dá a primeira dose de graça.

Sim, mas ele fornece doses grátis assim que você entra no circuito, quando descobre preciosidades fora de catálogo, esgotadas no mercado, mas vivinhas lá no depósito dele, aquelas que você tinha até esquecido que pretendia ler. Esteve aqui ontem, deixou uma despesa para três meses. E a alegria de conviver com outro amante dos livros.