por Fernando Muniz
Lá está ela,sentada junto ao meio fio, com a areia do tempo a escorrer pelos dedos, tal qual ampulheta, a calcular a marcha das horas, dos dias, noites e eventos do mundo. Ela é dona do tempo, parte de algo maior, jamais partícula ou individualidade.
Levanta-se e passa a andar a esmo pelas ruas, sem saber onde ir. Pula cercas e sobe em árvores, doma cavalos e derruba gigantes, gasta as energias em lutas com titãs. Nesse ritmo poderia se esgotar, mas não; ela é parte de um todo, um mais, um tudo.
Naquele dia de sol a pino, lá no alto do céu azul, vultos começam a rodear a sua cabeça. A sombra acolhedora que lançam sobre a terra desperta uma vontade de dormir. É hora do descanso final.
Convite irresistível, que a leva para um belo leito frio e escuro, não causando desconforto, muito menos pavor ou sensações ruins. Deitar ali é a consequência simples e óbvia de tudo o que viu e fez ao longo dos anos.
Aquele leito, escuro, espanta até mesmo os corvos. Mas ela não se importa; seus atos são imaculados, mesmo se incompreendidos.
E a levarão para o céu.