por João Pereira Coutinho
Não haverá doutores suficientes para tantas doutoras exigentes?
O que querem as mulheres? Freud, que era Freud, não conseguiu responder à pergunta. Mas o jornal Wall Street Journal, em editorial, incendiou as sensibilidades femininas (e masculinas) com um cenário aterrador.
O mérito pertence a Gerard Baker. Escreveu o editorialista que, nos Estados Unidos, as mulheres já representam 57% das graduadas com curso superior. Na pós-graduação, o número sobe para 59%. O futuro será delas, não deles.
Mas esse triunfo, que é positivo para uma sociedade mais igualitária, traz um problema inusitado. Se existem três homens graduados para quatro mulheres na mesma situação, com quem vão se casar as mulheres?
Explico melhor. Para um homem, o estatuto social ou profissional de uma mulher não é uma prioridade. E alguns machos, pateticamente inseguros, até preferem procurar parceiras que estejam um degrau abaixo das suas habilitações acadêmicas ou contas bancárias.
Com as mulheres, é a situação inversa. As donzelas valorizam o estatuto social ou profissional do homem de uma forma mais seletiva. É fazer as contas: não haverá doutores suficientes para tantas doutoras exigentes.
Quando li o editorial, ri alto: de onde saiu esse dinossauro? Mas depois, com o riso a apagar-se, dei por mim a pensar nas minhas amigas, nas minhas colegas, nas minhas conhecidas. Com quem casaram elas, afinal?
Na esmagadora maioria, e seguindo uma lógica bem marxista, casaram no interior da mesma classe. Em teoria, seria possível dizer que algumas delas, médicas ou jornalistas, se apaixonaram pelo encanador. Na prática, isso só acontece nos filmes de Hollywood.
E se o leitor desconfia do meu universo pessoal, há sempre estudos impessoais para esclarecer estas matérias. Um deles foi realizado pela Universidade de Swansea, no Reino Unido.
Os pesquisadores entrevistaram 2.700 alunos de cinco países (dois países orientais, Singapura e Malásia; três países ocidentais, Austrália, Noruega e Reino Unido). Com uma pergunta fundamental: o que mais valoriza num potencial parceiro?
Na lista de opções, essas oito características: beleza, finanças, gentileza, humor, castidade, religiosidade, desejo de ter filhos, criatividade.
Os resultados, partilhados pela revista Time, não mentem: os homens valorizam mais a beleza; as mulheres valorizam mais as finanças. O mundo é um lugar cruel?
Não, não é. Porque o mesmo estudo coloca no primeiro lugar de cada um dos sexos a mesma virtude imaterial: a gentileza. Antes da beleza (para eles) ou do dinheiro (para elas), parece que essa formosura da alma é o artigo mais cobiçado. A Ocidente e a Oriente.
De duas, uma: ou todo mundo está mentindo nessa pesquisa; ou todo mundo está mentindo para si próprio quando não há pesquisas.
Sou um romântico, leitor. Posso acreditar na segunda hipótese?
*Publicado na Folha de S.Paulo