Tão bom ser um Zé ninguém
Uma formiga perdida
Uma unha falida
Um conto sem final feliz
Tão bom poder ser assim
Devagar na volta
Rápida e solta
Como um fio desalinhado
Como um sábado cortado
Tão bom olhar no espelho
E dizer: seja o que quiser
Faça como puder
Vá ate onde der
Não saber, não reter
Não haver o amanhã
Porque é sábio
Medir-se de manhã
Dali até a madrugada
São muitos pontos
E muitos contos a se vigiar
Orai e celebrai
O rezo, o cinismo da maçã
Vai e não conta
Nada que não seja vão
Há, portanto, a importância?
Importo-me para o azul
E no sul faz frio
Belos pelos que crescem
Belas sinas que fenecem
Como é bom ser fictícia
Sem sabor e sem malícia
Apenas a delícia
De ser só
De ser vitalícia
Pois eternos são os que fazem
Na madrugada do alvorecer
Não somos os que reluzem
Somos os que destoam
E à toa voam
Infantis na astúcia
Preguiçosos na angústia
Calorosos na balbúrdia
Dos que vão como se nunca
Fossem
Aqui estamos
E declamamos:
Independência ou sorte
Da vida que entremeia
A meia na calçada
Alada convicção
Amada distinção
Um no todo
O todo, cada um
Sinistros medos
Porém longínquos cedos
Inventar a palavra
É ser pó na imensidão
Nada vemos
Nada cremos
E logo iremos
Nos perder na solidão