de Fernando Muniz
O destruidor,implacável, surge de sua tumba atrás de respostas, acordado por preces que se imaginavam esquecidas. Quem as lembrou e por que foram invocadas?
Os homens, de pronto, formam uma fila e respondem de modo diligente, em mil línguas, dando qualquer resposta que lhes surge à mente, sem ao menos fumar um cigarro ou tomar um café. Curvam-se às demandas do destruidor e pronto; no fundo sabem pouco o que dizem, quase nada.
E o destruidor, sem prestar muita atenção nem dar crédito aos homens, afinal de contas a sua sede por respostas se contenta com qualquer coisa, faz perguntas por completo impertinentes.
Quem está na fila não consegue compreender as perguntas, mas, mesmo assim, articulam respostas na linguagem mais castiça que conseguem exercitar, esmerando-se em falar como se estivessem sob julgamento. Como compreender de modo diverso aquela situação, criada por alguém tão distinto e poderoso? Ninguém se apresenta como responsável por ter dito as preces, mas isso, a esta altura, pouco importa, porque todos se sentem culpados e o destruidor está ali, a fazer perguntas.
A fila cresce, mesmo oprimida pelos uivos do destruidor. Que ordena se jogarem no abismo. Os homens avaliam por bem segui-lo, plenos de alegria, após receberem um sinal de concordância por tão sensata obediência. Afinal de contas a vida é assim mesmo e dia desses todos devem morrer, de um jeito ou de outro. Por que não se imolar?
A morte, incomodada com os movimentos do destruidor, chega carrancuda, concentrada em terminar logo de uma vez com aquele espetáculo banal. Ordena a liquidação de quem está na fila, mesmo antes de se atirarem no abismo, pouco importando o que tenham a dizer ao destruidor.
Os homens, mesmo diante desse veredito, continuam a responder o que lhes é perguntado.
Apesar de não serem ouvidos.
Nem levados em conta.