por Thea Tavares

Apesar do frio que ainda fez na entrada da estação, acredite: chegamos à primavera! Desde que ela começou, eu meio que mentalizo um mantra toda manhã para lembrar das coisas boas que convencionamos associar a essa época: flores, beleza, sentimentos de afeto, já preparando o espírito para as nossas promessas de transformação de fim de ano. “É Primavera!” é um verso que vem repetidamente à cabeça na voz do síndico Tim Maia e que gruda nos ouvidos com certo ar desesperado, em sintonia com o mais puro instinto de sobrevivência.

Pois bem, assim como navegar é preciso e viver também, torna-se imperativo lembrar da estação e dessa convenção toda em torno dela para diminuir a carga do cotidiano pesado e bélico dos tempos atuais, que não nos dá trégua e exige de nós respostas rápidas a todo momento. Exagero no mantra da Primavera porque, todo santo dia, as 24h não passam ilesas sem nos depararmos com um espanto, um mal estar, uma indignação, um medo ou um cuidado redobrado. Não está fácil pra ninguém manter a centralidade e a sensatez nesses tempos. É preciso segurar a primavera nos dentes!

Pode até parecer fraqueza, fuga e alienação, mas pensar nos humores da estação é uma forma também de abstrair e de encontrar maneiras para se blindar, se defender e sobreviver nessa selva. Reenergizar-se e renovar as forças para lidar com as adversidades. Não deixar que essas nos afetem além do limite de nos impulsionar à contestação propositiva ou de dar luz à consciência transformadora que tanto move e moveu a humanidade até aqui.

É por isso que busco nas coisas mais simples e inusitadas do dia alguns refrescos e crio, projeto ou invento situações capazes de redirecionar o pensamento, os sentimentos, as palavras… Para poder seguir com toda a leveza que for possível de se vestir a fim de atravessar essa temporada turbulenta e perversa com alguma alegria à tiracolo. A nossa alma também demanda resiliência, que vem da força de nos conhecermos e nos agregarmos nesse mundo.

A nossa alma quer gritar gente, vida, amor, plenitude, desejos, prazeres, liberdade, cumplicidade e muito mais. Quer timbrar no ritmo e na frequência das conexões que só a espiritualidade pode soprar a nosso favor. E quando isso acontecer, basta reconhecer.

Que os ares da primavera nos brindem com a energia que nos faz fortes, revigorados e assertivos. Ter esperanças e buscar sorrir, amar, se divertir tornam-se nessa conjuntura poderosos atos de resistência! E resistir é mais do que preciso. É vital!