Por Ruth Bolognese
Sempre chamei o Scalco de “Scalco”, assim, sem o Dr, que a grande maioria dos amigos e conhecidos, respeitosamente, coloca antes do nome dele. Não por intimidade, porque neste terreno só trafega dona Terezinha e olha lá. Mas porque, desde que me conheço por jornalista, converso com o Scalco sobre todos os grandes fatos paranaenses e brasileiros. Como seria possível chamar a maior referência política da minha carreira de “Dr” ?
Nesta longa estrada feita de encontros , as vezes esporádicos, as vezes semanais, o mais emocional deles aconteceu na porta da UTI do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, onde o nosso grande amigo em comum, o jornalista Hélio Teixeira, respirava por aparelhos nos seus últimos dias de vida. Era noite e fazia frio. Os plantonistas hesitavam em dar informações mais precisas sobre o estado real do Hélio e então o Scalco utilizou o mecanismo básico de todo brasileiro importante em dificuldades: deu um “carteiraço” na chefia da UTI, mas ao seu próprio estilo.
Ao invés de se apresentar como ex-ministro, ex-deputado, ex-presidente da Itaipu, ex-homem mais importante da política paranaense, disse apenas que era integrante dos “Amigos do Hospital das Clínicas”, entidade que auxilia o HC com recursos e doações. Teve efeito, óbvio, mas as notícias não eram boas.
Ficamos parados, Scalco e eu, olhando o Hélio de longe, entubado, lutando pra respirar. E, pela segunda vez naquela noite, Scalco me surpreendeu: contou, em detalhes, um problema familiar pelo qual estava passando, de difícil solução.
Ao final da visita, enquanto seguia os passos apressados dele pelos corredores do Hospital, olhando os ombros magros, um pouco encurvados, entendi tudo. Pelo amigo no leito de morte, feriu o princípio da discrição austera com que sempre se portou na vida pública, exemplo de dignidade em todos os cargos que ocupou.
E por mim, que fazia um esforço brutal para não desabar em choro, ofereceu consolo na confidência pessoal, extraordinária naquele momento.
Nenhum paranaense na história recente do Estado condensa as qualidades ideais que se espera de um homem público como o gaúcho Euclides Scalco. Sem nenhuma concessão ao populismo, à simpatia caricata e aos eternos jogos da política, comandou com mão de ferro a administração do então governo José Richa e foi o segundo homem da República na era FHC. Passou pela maior Hidrelétrica do mundo, a Itaipu Binacional, aposentou-se e continua morando num apartamento do Alto da XV em Curitiba, que deixa de vez em quando para passar temporadas em Camboriú, SC.
Tanto poder acumulado, a proximidade com as altas autoridades durante mais de 40 anos, e uma vida pública transparente, sem névoas nem segredos. A virtude maior de Euclides Scalco não exige grandes elucubrações, nem raciocínios complexos para ser descoberta: eis aí um homem de respeito. Respeito pelo País, pela política e pelos brasileiros.
*Euclides Girolamo Scalco nasceu no dia 16 de setembro de 1932 em Nova Prata (RS)
Belo texto para uma grande figura.
Ótima escolha para um retorno aguardado
…e ele nos deu Beto Richa por 8 longos anos.
Parabéns à Ruth pelo texto. O Scalco é, sem dúvida, um exemplo para todos.
Lixo
Parabéns Ruth pelo artigo
Minha amiga Ruth Bolognese, obrigado por nos oferecer esse texto comovente sobre meus dois grandes amigos, Hélio Teixeira e Euclides Scalco….partilho da dor da perda do Hélio e assino embaixo tudo o que você escreveu sobre o Scalco…é mesmo um ponto fora da curva nesse Paraná de Gleisi, Paulo Bernardo, Martinez e Carvalhinho….se estiver com ele, por favor o abrace por mim …beijo grande
E o Scalco , mesmo sendo TUCANO, não se oxidou como o cobre vil de uma lâmpada!