Sei não quem é o presidente, não. Tenho televisão não. Nem rádio. Nunca vi um jornal na vida. Já me falaram o que é, mas não adianta. Não sei lê! Nasci aqui nesse cantinho perdido no mundo. Em casa tem luz não. Água só da cacimba. Eu e muié a fizemos uma boa filharada. Tudo nasceu em casa. Na hora chamamo a parteira das redondezas. Trabalho de meia, na terra dos outros. Tenho terra não. Pobre nasce pobre e morre pobre. Dura muito se a reza for forte e não pegar doença. Em casa tem um Padim Ciço e uma Nossa Senhora. Jesus anda no meu bolso, num crucifixo pequeno. Por enquanto eles estão protegendo a gente. Comemos farinha todo dia. Ovo de vez em quando. Galinha uma vez por mês. Carne quando alguém mata um boi ou porco e chama a gente para a festa. O que eu gosto mais aqui? O cheiro da terra quando chove. Se tem poça no terreiro, vou lá e coloco o pé. Coisa boa. A cidade mais perto fica longe. Fui uma vez. Achei estranho. Muita zuada. Não gostei. Documento tenho não. Me chamo Zé. Me disseram isso. Ninguém me falou o resto do nome. Tá bom. Não precisa. A vida é assim. A gente aprende. Pra que saber de presidente?
Não temos presidente,hoje temos coronel ou Capitão de estimação,aquele de sempre que nos da água e pão,água podre e pão velho,sempre foi assim e quando nós tinha um presidente,terra seca,conterrâneo,olha o que fizemos,jogamos,jogamos ele num calabouço e sua família enterramos.
Mas é a sina do retirante,pobre trabalhador escravo,que respeita o sinueiro,adora o som do berrante,vai pela vida errante,comendo ontem o que hoje ganhou,brigando pelas migalhas,sonhando com as promessas eternas do seu presidente..