Há momentos no futebol que apenas gênios como Nelson Rodrigues ou poetas como Armando Nogueira poderiam descrever em sua magnitude. Um temporal fortíssimo caiu sobre Curitiba poucas horas antes do início da decisão da Copa do Brasil entre o Atlético Paranaense e Internacional, em Porto Alegre. No estádio Beira-Rio, 2.500 atleticanos estavam lá desafiando mais de 50 mil colorados. Tinham convicção da conquista da Taça, inédita. Mas nem os sonhos mais positivos de todos os rubro-negros, os de lá e os daqui, superaram o que aconteceu nesta noite histórica para o futebol brasileiro. Uma pressão total do time da casa no início do jogo, uma impressão de desespero do Atlético, que venceu o primeiro jogo por 1 a 0 e precisava só do empate para a conquista, nada tirou a esperança, a expectativa, aquilo que só quem tem paixão, amor, e sabe como é o futebol na essência. O Atlético estava predestinado a ser grande, como vinha se desenhando há algum tempo, não só na estrutura física, mas principalmente por apostar no be-a-bá da formação de jogadores. O time fez um gol (Léo Cittadini aos 23), esfriou o adversário, levou o do empate (Nico Lopes aos 30), mas aí já era o aquele que estava pronto para esquecer o complexo de vira-latas em jogos fora de casa e demonstrado recentemente na mesma Porto Alegre ao perder para o Grêmio na primeira partida da semifinal. A classificação para a decisão, numa outra partida histórica, na Baixada, revertendo o placar de 2 a 0 e ganhando nos pênaltis graças ao excepcional goleiro Santos, foi a pedra de toque para o que aconteceu hoje. O segundo tempo do jogo foi perfeito, pois o Internacional estava morto, apesar de alçar bolas para a área atleticana em busca do impossível. Ela não entraria nunca, porque existem deuses do futebol e dos estádios, e hoje era noite de Furacão depois da tempestade na cidade dele. O aguaceiro parou, foi embora para os torcedores de Curitiba ficarem ouvindo os do Beira-Rio tomando conta do estádio com o grito conhecido, o dos predestinados à alegria. Então, aconteceu, a jogada que será lembrada para sempre. Nos acréscimos, Marcelo Cirino fez algo inacreditável: colado na linha lateral do campo no lado esquerdo do ataque, com dois marcadores, deixou-os órfãos, com um toque de letra que passou entre as pernas de um deles; carregou a bola, dócil, obediente, para dentro da área, driblando mais um defensor, para então tocar para a entrada do grande Rony marcar o segundo gol e sacramentar o título, aos 51 minutos, pouco antes do apito final. Os R$ 53 milhões ganhos pela conquista, a vaga na Libertadores, estes são apenas detalhes pelo que o Atlético Paranaense proporcionou hoje aos seus torcedores. Lá onde estão, Nelson Rodrigues e Armando Nogueira se emocionaram com o que aconteceu. Escreveriam a respeito, se vivos fossem. Porque sempre souberam traduzir momentos como este que se levam para a eternidade pois inesquecíveis e raros.
Saudade de você na PLACAR, onde comentarista era literato e poeta, onde os fracos e fortes se rendem à bola, onde o futebol é a essência de todas as alegrias, é a nossa redenção social, onde os negros, os mulatos e os retintos são as estrelas e as figuras essenciais, onde há a brasilidade verdadeira e a felicidade se realiza na palavra GOOOOLLLLLLLLLLL.
Fantástico texto , se Marcelo quisesse faria também o gol e aí ficaria na história do estádio
Futebol se ganha com inteligencia,o Atlético jogou pro gasto se poupando no primeiro tempo sabendo que os grandões do Inter corriam como loucos atrás do resultado e morreram no segundo tempo,basta ver o lance do Cirino que ele passa por dois e eles andam atraz dele.
Esse çaite (ou brogue) está cada vez menos sério.