Parece que o Brasil descobriu a Amazônia agora, por causa da língua lança-chamas do presidente Bolsonaro. O desmatamento e os incêndios existem desde antes de a Transamazônica tornar realidade um delírio da ditadura militar. Laurentino Gomes, hoje famoso pelas grandes reportagens que faz e publica em forma de livros (o primeiro, da trilogia sobre a escravidão, acaba de ser lançado), conhece bem isso. No tempo em que o jornalismo era jornalismo, ele saiu da sucursal da revista Veja em Curitiba e foi para Belém, no Pará, onde seu talento foi reconhecido depois de ter vasculhado e apresentado toda aquela imensidão em reportagens de tirar o fôlego. Quando embarcou, levava na bagagem o número especial da revista Realidade, fruto do trabalho de um ano da excepcional equipe comandada pelo saudoso Sergio de Souza. É possível que hoje, diante de tanta informação alimentada a cada segundo, haja uma reversão na tragédia impune de anos e anos de devastação. Mas, como estamos no Brasil, talvez daqui a duas semanas o assunto seja outro, sempre triste e pesado, e a Amazônia continue seguindo o destino de se tornar um enorme pasto ou, pior, um deserto.