16:27O BEIJA-MÃO DO JECA

de Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA informa que “ainda não falou com Donald Trump” sobre o abastecimento de navios iranianos pela Petrobras, em portos brasileiros. Deve ser problema da agenda de Jair Bolsonaro, porque o presidente dos EUA está tenso, febril, com os canais abertos, à espera da conversa com seu homólogo e homogêneo brasileiro. Parou tudo à espera da conversa com o pai do embaixador.

RESSALTA AINDA o presidente-estadista do Brasil, ele “está fechado” com Trump na “questão do Irã”. Qual questão? O presidente e seu filho, o presunto embaixador não saberiam responder de pronto – este, na sabatina de embaixador nos EUA, já que não temos senadores capazes e versados. São questões: a nuclear, o armamento do Iêmen, a intervenção na guerra síria e a apreensão de petroleiros ingleses.

O QUE o “estar fechado” com os EUA levará o Brasil a fazer contra o Irã? Na questão do combustível naval, fechar os postos da Petrobras para os navios? Nada até agora. Apenas Raquel Dodge, a procuradora geral da República, meteu-se no assunto, pediu liminar e foi rechaçada pela justiça (ela faz qualquer coisa para agradar o Messias de Neandertal). Na questão nuclear?

OS EUA decidiram que o Irã não pode aumentar sua capacidade de enriquecer urânio. Necessidade de proteger Israel, Arábia Saudita e aliados do Oriente Médio contra ameaças do Irã. Para isso conseguiu bloqueio econômico contra o país. Como o Brasil dará apoio aos EUA? No gogó bolsonáro-araújico, nada mais. Que peso político internacional e força estratégica o Brasil e Messias não têm.

NESSA ADESÃO automática e cega aos EUA, Jair Bolsonaro anda na contramão da história, pois isso não existe no mundo atual. Nem na Comunidade Europeia há adesão e coesão total, automática e cega. Vide a questão das migrações, que opõem Itália e França. A política internacional é pautada pelo interesse nacional, e este não pode ser cego, automático e total de um país em relação a outro.

NEM CABIA dizer aqui por ferir a elevação dos termos, mas o presidente do Brasil mais parece o turista brasileiro em viagem à Disney e Miami, lá para ver os bichinhos, cá para fazer as comprinhas: tudo nos EUA é do bom e do melhor. Isso é tão pequeno, diminuto, irrisório frente à dimensão e importância do Brasil que faz de Jair Bolsonaro o jeca do Planalto, o brazuca deslumbrado.

SEM UM ROBERTO CAMPOS e um Golbery do Couto e Silva a seu lado, gente que pensava e via o mundo com lucidez, Jair Bolsonaro recua a 1964, quando o primeiro embaixador do regime militar nos EUA, general Juracy Magalhães, disse a frase infeliz “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Seus defensores alertaram que o general fazia ironia com a esquerda radical.

NEM O REGIME MILITAR alimentou tal devoção aos EUA, com um presidente entregando-se sem crítica, análise e visão estratégica dos interesses do Brasil a um ‘aliado’ que historicamente adota o princípio externado por John Foster Dulles, secretário de Estado do presidente Eisenhower, que dizia “os EUA não têm amigos, têm interesses”. Quem estudou história elementar sabe disso.

BOLSONARO RECUA cinquenta anos na história recente do Brasil no modo hegeliano-marxista de repeti-la como farsa depois do prólogo da tragédia (o amigo-leitor Renato Kanayama me corrigiu sobre isso: “Que nada, será coerente com Marx: teremos a repetição da tragédia”. Nosso presidente-vexame está mais para Octávio Mangabeira, o deputado baiano que beijou a mão do general Eisenhower.

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