19:41O mês do orgasmo

De Rogério Distéfano, no blogO Insulto Diário

NÃO TEM ERRO, fica entre o shopping da comida ruim e o shopping Itália. É a sex shop, está ali tem anos inteirados, sempre com lingeries em preto e vermelho fortes na vitrina, jamais as cores que atrairiam torcedores do Coritiba e do Paraná Clube. Só tem acessórios para mulher. Por exemplo, algemas, chicotes, máscaras e a bola para tapar a boca dos homens, fetiches e acessórios dos praticantes de BDSM, a sigla inglesa para manietação, dominação e sadomasoquismo, até isso vi na vitrina. Não vi a balança do vai e volta, acessório de motel.

As coisas para homens devem estar bem guardadas lá dentro, nunca entrei na loja para conferir. Mas mentiria se dissesse que nunca tive vontade e mesmo tentação. Alguém me falou de uma bolinhas com cor e sabor que as mulheres gostam de ver dissolver nelas. Também nunca vi, nem na internet e revistas do ramo. A loja é uma autêntica contradição, pois dá direto para a rua, a vitrina escancarada para quem quiser olhar. Porém, atesto sob a fé de meu grau, que nunca vi viv’alma parada diante da vitrina. Nem dentro da loja, acessível por um discreto corredor.

Todos, principalmente os homens, passam batido pela vitrine, um olho no peixe, outro no gato. Nunca vi mulher olhando a vitrina, nem nunca vi mulher entrando na loja. Devem entrar disfarçadas, na calada da noite, porque há tanto tempo ali a loja dá testemunho de verdade evidente por si mesma: tem clientela fiel. Não diria que a clientela é feita de mulheres, degeneradas na visão moralista oficial do Brasil Bolsonaro. Conheço mulheres – e não são poucas – que vão à loja comprar para os parceiros.

Mulher comprando brinquedos sexuais para os maridos? Novidade nenhuma, apenas derivação do velho costume de comprar meias, cuecas, camisas, pijamas, gravatas, etc. No etcetera estão as que compram até sapatos, no velho e prático lance de calçá-los com dedos junto ao calcanhar, a diferença entre seu número e o do ‘conge’. Nestas já longas linhas saio de meu armário tímido, curitibano e hipócrita e comunico que depois de décadas entrei ontem na sex shop, atraído por outros coroas que babavam na vitrine.

Sugiro a você, leitora e leitor, uma olhadinha na vitrina. Duvido que não fiquem tentados. Por quê? A vitrina traz a placa, bem chamativa: “Julho, mês do orgasmo”. Sabe lá o que é isso, um mês só para o orgasmo? Fui lá, serei sincero, levei um balde de água gelada. Perguntei o que a loja tinha para orgasmo. A vendedora respondeu, um misto de piedade e caridade: “Procure na farmácia, aqui não tem nada para o senhor”. Se a esperança é a penúltima que morre e como julho não acabou, ainda volto lá, cabelo pintado, pinta de moço.

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