por Ruy Castro
Toda a música popular brasileira pertence agora a três grandes grupos
O mundo girava a 78 r.p.m. Quando a indústria fonográfica começou no Brasil, em 1902, havia a Casa Edison, de Fred Figner, que produzia seus discos pelas alemãs Zon-O-Phone e Odeon. Em 1927, a Odeon, já inglesa, chutou a Casa Edison e tomou conta. Nela gravavam Francisco Alves, Mario Reis, Vicente Celestino. Em 1930, a Victor e a Columbia, americanas, entraram na história. A Victor lançou Carmen Miranda, Silvio Caldas, Carlos Galhardo e descobriu Orlando Silva, Aracy de Almeida e Cyro Monteiro. A Odeon fisgou Carmen Miranda, na maior fase de sua carreira, e lançou Dorival Caymmi e Ataulpho Alves.
A Columbia, que teria Os Anjos do Inferno, Isaurinha Garcia e Vassourinha, deixou seu acervo nos anos 40 para a Continental, que somaria a ele Dick Farney, Lucio Alves, Emilinha Borba e Marlene. A Victor apresentou Nelson Gonçalves e Luiz Gonzaga. Novos selos surgiram. Em 1950, a Todamérica, com Elizeth Cardoso e Nora Ney. Em 1951, a Copacabana, com Dolores Duran, Angela Maria e o primeiro 78 individual, pré-bossa nova, de João Gilberto. Em 1955, a Polydor, com Agostinho dos Santos. Em 1956, a RGE, com Maysa.
Já na fase LP, a Odeon ficou a dona do samba-canção, da bossa nova e do samba de alta classe. A Philips, a partir de 1965, inventou a “MPB”, com todos os grandes nomes que estão até hoje na praça, e abocanhou os selos de elite, a Elenco, a Festa e a Forma. A Odeon comprou a Copacabana. No futuro, surgiria a Warner, que engoliria a Continental. A Sony, por sua vez, pegou tudo que era da RCA Victor. A Philips seria absorvida pela Polygram e, esta, pela Universal, que se apoderaria da Odeon, vulgo EMI, com tudo que havia dentro.
E assim temos toda a história da música popular brasileira do século 20 dividida agora entre três empresas: a Sony, a Warner e, com a parte do leão, a Universal.
Nenhuma delas brasileira. E todas, sem qualquer apreço ou interesse por esse patrimônio.