De Fernando Muniz
O nevoeiro é espesso; cobre todo o vilarejo e não consigo distinguir o que está ao redor. Casas, pessoas, animais, carroças, tudo é indeterminado, embora eu saiba que estão ali.
Escuto, apenas. Gaivotas e o barulho do mar, como à beira da praia, apesar de ali, naquele vilarejo, estarmos a poucos metros de um penhasco. Nítidos, esses sons são encantadores.
Os antigos diziam que existe um caminho até a praia, que não pode ser visto entre a névoa. Será o grasnar das gaivotas o sinal que preciso para chegar até lá?
Perto de onde estou um farol indica o limite entre a terra e o vazio. Ele já existia quando os primeiros moradores chegaram, mas ninguém sabe quem o construiu. Funciona desde sempre, sem apagar um dia sequer. Não o vejo, nem o escuto. Apenas seu facho, constante, passa sobre os telhados e se lança atrás de quem está no mar.
Será esse o sinal? Pode até ser, mas fico apreensivo ao pensar no farol. Como se, do mar, quem enxergar seu facho fuja, ao invés de segui-lo. Sua luz não traz alento, nem esperança.
O nevoeiro não dá trégua; o farol continua a jogar seu facho repulsivo sobre telhados e barcos. E as gaivotas? Continuam a grasnar. Cada vez mais nítidas, cada vez mais próximas.
E vou atrás delas.