por Fernando Muniz
Uma senhora, crente nas leis dos homens, suspende a arrumação da casa e aumenta o som do rádio, para ouvir um pronunciamento em cadeia nacional.
“É lamentável que ações espúrias, perpetradas por inimigos do bem, tentem me desmoralizar em um momento tão delicado da jornada de nosso país, fomentando ilações espúrias através da interpretação capciosa e fora de contexto de palavras as quais, sequer, é possível saber se são minhas, supostamente ditas em conversas que mantive com pessoas de igual reputação ilibada e conduta proba, onde tratamos de assuntos relevantíssimos acerca do futuro do país, dentro da normalidade institucional que deve nortear o labor de qualquer servidor público digno de ser chamado como tal. Tais invectivas não nos atingem tampouco nos esmorecem, bem como não conseguirão nos deter em nosso mister em prol do interesse público e do progresso nacional”.
A senhora desata a chorar, emocionada com o tom trágico daquelas palavras, tão solenes, tão graves, tão sérias, embora não tenha compreendido coisa alguma delas.
Mas quem disse que é preciso entender o que os puros falam?
Ou fazem?