De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário
ESPERTEZA DEMAIS MATA. Falta de leitura, também. Sergio Moro e Deltan Dallanhol, dois garotos da geração joystick, caíram na armadilha cibernética. Combinaram pelo zap zap e pelo msn as jogadas da Lava Jato. Bastou o hacking no celular de Moro para o site Intercept entregar a esperteza. Jogadas como as reveladas no hacking não devem ser armadas via telefone, carta, cochicho.
O certo é fazê-las na sauna, de preferência úmida, enfumaçada, os dois pelados, sem mãos nos bolsos. Trama entre juiz e o procurador nem com a mão cobrindo a boca, como fazem políticos e técnicos de futebol. Moro e Dalanhol conviveram e não aprenderam com os grampos do ex-senador Sérgio Machado no senador José Sarney e de Joesley Batista sobre Michel Temer. Imagine os emoticons das conversas.
Moroleaks, Snowden
NÃO ADIANTA brigar com a Intercept, o site do Moroleaks, as conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol. O criador, Glen Greenwald, conhece o ofício. É amigo e orientador de Edward Snowden, o americano hoje refugiado na Rússia, que como analista da CIA e da NSA, National Security Agency, divulgou documentos do sistema de defesa global dos EUA.
A roupa da lava jato
AGUENTE O BERREIRO esganiçado de Gleisi Hoffmann e as cartinhas de Lula em folhas de caderno. Os dois e demais petistas a bradarem “eu avisei”. E teremos que concordar, pelo menos em parte – na parte que não nos deixa com cara de palhaços. Caso de Sergio Moro e Deltan Dalanhol nas conversas sobre a condução da Lava Jato.
Nem tanto quanto ao procurador, que, afinal, pode ser parcial e tentar influenciar o juiz. Chato para Sergio Moro, de quem se espera a pureza da vestal – e as pedras a serem lançadas no ex-juiz da Lava Jato também merecem, com maior razão, alguns ministros e desembargadores. Sérgio Moro foi o único? Não, foi o único a ser grampeado.
O cidadão espera o juiz isento, asséptico, distante, acessível apenas nos autos e frio no exame das provas. Mas temos o vezo da proximidade entre juiz e acusador, traço cultural que subsiste no inconsciente institucional de o juiz ver no promotor o portador da verdade. Sem a contrapartida isonômica com o advogado.
O “eu avisei” dos petistas amplificará a afirmação de que as gravações reforçam a crença de favorecimento a Jair Bolsonaro pelo então juiz da Lava Jato. O liberar o depoimento de Lula à imprensa durante a eleição e a sucessiva aceitação de convite ao ministério, aquilo que até agora era manifesto político, adquire aparência de verdade.