12:03A sutil persuasão

De Ruy Castro

“Tirem suas conclusões”. “Analisem”. “Reflitam”. Assim terminam quase todas as mensagens, postagens e repasses de Jair Bolsonaro e filhos. É uma isca lançada aos seus seguidores e leitores para que eles pensem estar participando de uma linha de raciocínio. Não é de hoje —talvez sempre tenham usado essas expressões. É uma forma de sedução, transferindo às pessoas a possibilidade de chegar a conclusões que elas julgam próprias, mas que, sem que desconfiem, são as que já estão na cabeça dos Bolsonaro.

Não sei se é uma tática clássica ou conhecida de persuasão. Mas é, em tudo, semelhante à forma de Bolsonaro governar, parecendo transferir responsabilidades. Em vez de cuidar da segurança pública, “sugere” ao cidadão se defender por conta própria, botando um revólver no cinto. Em vez de cuidar da educação fundamental —já que declarou guerra ao ensino superior—, estimula os pais a “alfabetizar” pessoalmente os filhos, longe da professorinha comunista. Em vez de disciplinar as estradas e vias públicas, desliga os radares, evapora as multas e deixa a cada motorista a responsabilidade de atropelar e matar ou não.

Uma das últimas manifestações dessa tática foi há poucos dias, quando Bolsonaro divulgou o texto então ainda anônimo sobre a sua “impossibilidade de governar”. Ao repassá-lo na rede e pedir que fizessem o mesmo, já estava implicitamente endossando-o. Mas, ao final de sua mensagem, dizia: “Com o texto abaixo, cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões”.

Oferecer ao povo a ilusão de “tirar conclusões”, “refletir” ou “analisar” é uma forma sutil e eficiente de Bolsonaro assegurar apoio para seu cada vez mais óbvio objetivo: jogar o povo contra o Legislativo, o Judiciário e quem mais se meter na frente para, finalmente, governar sozinho.

Perdão pelo plágio, mas cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões. Analisem. Reflitam.

*Publicado na Folha de S.Paulo

2 ideias sobre “A sutil persuasão

  1. SERGIO SILVESTRE

    Deus cansado do povo brasileiro ao invés de mandar o Messias mandou uma praga de gafanhotos.

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