Cadeira de rodas é para o corpo. A mente não precisa. Vi uma encostada no canto de um quarto vazio, piso de cimento, paredes com reboco caído em algumas partes. A luz da janela não tirava o cinza daquele objeto inanimado. O dono tinha ido embora para sempre. Levou a esperança que tomou conta dele desde que as pernas lhe faltaram num caminho de roça. Era obsessão. Ela lhe tirou as asas para voar no pensamento e aproveitar a lucidez. Tempos depois uma foto chegou na tela branca do computador. Mesma cena, mas num barraco de tábuas coloridas no interior do Paraná. Sem referências. Apenas a mesma cadeira silenciosa encostada numa parede ao lado do que seria uma janela. A diferença é que a que eu vi estava de costas para a rua – a outra, de frente. Seria para a vida?