De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

O MINISTRO PAULO GUEDES, da Fazenda, voltou à câmara dos deputados para defender a reforma da Previdência. Sempre a retórica de sempre de todos os presidentes de que o Brasil quebra se não mexer na Previdência. Culpou os funcionários públicos, “as corporações”, diz ele, que ou participam da roubalheira ou se omitem no impedir que outros roubem. O ministro, desta vez menos exaltado, isentou os políticos.

Funcionário rouba? Sim, não há como negar. Mas em proporção insignificante em relação a políticos que os compram ou os cooptam para a roubalheira. Há também os funcionários que são ladrões crônicos, como a Lava Jato mostrou em relação à Petrobras. No entanto, em sua maioria foram alçados ao poder de roubar a serviço de quem os pôs em funções de mando. Lava Jato de novo, por todos.

A drenagem e o desperdício dos recursos, portanto, têm mais mão de político que dedo de funcionário. Funcionário sabe das falcatruas? Geralmente sabe, mas ao contrário da visão tosca do ministro, não tem poder para impedi-las nem a segurança institucional de que será protegido ao denunciá-las. Está aí o sistema de denúncia anônima para comprovar. Funcionou até agora? Não.

Que experiência tem Paulo Guedes do serviço público antes de ser ministro? Nenhuma. Sempre esteve na área privada, gerindo bancos e fundos de investimento. Proximidade com o que denuncia só teve a experiência que o incomoda até hoje, quando como gestor de fundos aplicou os recursos destes na Operação Greenfield, na qual tinha interesse. Foi aí que conheceu “funcionários que roubam”?

A reforma da Previdência pode ter méritos. Porém ela carrega a suspeição de todas as reformas de começo de governo: denunciam o iminente apocalipse. O resultado é que deixam exato isso, o apocalipse. RememberFernando Collor e seu Paulo Guedes, Zélia Cardoso de Mello, trôpega no idioma e no raciocínio como Dilma Rousseff, esta que nos legou a tragédia da contabilidade criativa.

Com que experiência e conhecimento o ministro propõe a reforma em um mês de governo? Uma experiência e elementos insignificantes diante dos de Sergio Moro e sua reforma da Segurança, que assim mesmo tem furos. Que experiência e conhecimento têm os parlamentares da base bolsonárica para fazer reformas, assim, de afogadilho? Reformas exigem ousadia, sim, mas cautela também.