Do jeito que veio
Impedido de se apresentar em espaço da SANEPAR, espetáculo As Cidades Invisíveis tem sua estreia adiada
A peça teatral As Cidades Invisíveis do Agora Coletivo foi obrigada a adiar sua temporada devido a uma súbita desautorização. O espetáculo tinha estreia programada para esta sexta-feira (26) no Museu de Saneamento da SANEPAR, localizado no bairro do Tarumã. A decisão da empresa em cancelar a cessão do espaço chegou em cima da hora e sem justificativa.
Com as devidas liberações para temporada e ensaios, o grupo já vinha trabalhando no espaço há mais de um mês e realizou grande parte da composição dramatúrgica e cênica especificamente para o local. A peça aconteceria em uma trajetória pelo reservatório de água desativado e seu entorno.
Em conversa com diferentes setores da companhia de saneamento, a produção do Agora Coletivo tentou entender quais eram os motivos que levaram à decisão de cancelamento do uso do espaço. O grupo expôs que o projeto não poderia ser realocado sem prejuízos artísticos e financeiros e propôs se adequar a necessidades da SANEPAR. A empresa, no entanto, respondeu sempre que as motivações eram internas e, não as revelando, manteve o impedimento.
Agora, a obra está em processo de transformação para ocupar o Teatro Cleon Jacques a partir do dia 10 de maio, onde permanecerá em cartaz por três semanas em novo formato. Enquanto isso, o Agora Coletivo, visando obter uma justificativa formal da companhia de saneamento, protocolou nesta quarta-feira (24/04/2019), uma notificação extrajudicial perante a SANEPAR, expondo à companhia os transtornos de ordem administrativa, operacional e financeira decorrentes do cancelamento, de última hora, da autorização anteriormente firmada por aquela instituição.
Sobre o espetáculo
Diante de tempos tão inflamados, com ideais tão díspares entre as pessoas, como conviver com as diferenças em um mesmo espaço, casa, cidade, estado, país? Ainda mais, quando a delicada abertura ao outro, que é própria da arte, continua a ser compreendida como espaço para subjugar e exilar, como aconteceu com este espetáculo?
As Cidades Invisíveis traça uma narrativa que beira a linguagem dos sonhos, com imagens misteriosas, enigmáticas, e faz uma analogia entre as “cidades” e as atrizes que formam o elenco do trabalho. Inspirada na personalidade de cada uma delas, a peça é uma trajetória por suas histórias autobiográficas.
O processo teve como ponto de partida o livro homônimo de Ítalo Calvino e caminhadas por ruas do centro histórico de Curitiba, cidade que também tem aspectos presentes na dramaturgia. A noção de “território” como identidade e de “corpo” como território delineia um discurso que transita entre as ideias de vida e morte, viagem e morada, convite e expulsão, invasão e acolhimento. Agora, o trabalho assume, em seu percurso narrativo, também sua própria trajetória de remoção do espaço, dando foco ainda às diversas nuances das subjetividades das artistas que o compõem.
Adotando o onirismo como linguagem, o roteiro desenvolve uma linha narrativa singular, diferente de montagens tradicionais. Em cena vemos relatos autobiográficos e algumas digressões que carregam nuances de comicidade, crítica, ironia e também composições dramatúrgicas e visuais que podem sensibilizar o espectador em outros níveis. Quem aceitar o convite para visitar As Cidades Invisíveis conhecerá o resultado de um processo de criação intenso que toca diferentes áreas do conhecimento, como a filosofia, a psicologia, a espiritualidade, a arquitetura, a medicina holística e, claro, a arte.
Falar de cidades de forma poética – inspirados pelo modo como Calvino o faz – é uma maneira de colocar em perspectiva e de sensibilizar para o quanto viver em sociedade significa troca entre indivíduos complexos e repletos de subjetividades. As Cidades Invisíveis chama o espectador para atos de reflexão a partir de suas memórias, a fim de que perceba a complexidade das “cidades” que crescem dentro de cada um.
Projeto realizado com o apoio do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba. Incentivo: Divesa e Banco do Brasil. Apoio: Movimento Enxame – Espaço de Criação, Padaria América, Missê Mariá Comida e Arte, A Caiçara e Café do Teatro.
Sobre o Agora Coletivo
O Agora Coletivo surge em Curitiba em 2015 com o propósito de explorar formas diversas de interação com o público. Seu nome, que faz referência à efemeridade do ato teatral, remete também ao grego Ágora, “espaço aberto”, que insinua tanto o desejo do grupo de explorar diversos espaços físicos para o acontecimento teatral, quanto o interesse pelos diferentes lugares estéticos que eles possam estabelecer. As Cidades Invisíveis é o quinto trabalho do Agora. Ele dá seguimento as investigações desenvolvidas no espetáculo Ensaio para uma poética do movimento (2016), resultado de uma pesquisa de performance no espaço público que gerou também nove intervenções urbanas, bem como as do projeto Obra em Progresso, que ainda está em curso e originou até então três performances: Streaming (2017), realizada em ambiente virtual, Sobreposição (2017), que explorou as salas e os prédios em torno de uma galeria de arte, e Cartografia (2018), que colocou o público no saguão do teatro Guaíra para assistir através das vidraças as cenas que se passavam no espaço público. Já em espaço teatral, o Agora desenvolveu os solos Incêndio (2015) e Primeiro Amor (2017), que de modos diversos priorizavam um relação bastante próxima com o público.
Mais informações: www.agoracoletivo.com
Sobre a Híbrido Produções e Renato Sbardelotto
A Híbrido Produções coordena os projetos culturais do artista Renato Sbardelotto. Sediado em Curitiba, pesquisa dança-teatro e ações de formação de plateia. Ao longo de sua trajetória, foi artista residente na Casa Hoffmann – Centro de Estudos do Movimento. Também foi contemplado com prêmios e projetos pelo MINC, pela Funarte (Prêmio Artes na Rua e Myriam Muniz), pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e pela Fundação Cultural de Curitiba. Como mediador do projeto “Pela Experiência da Dança-Teatro” (2013), circulou pelas regionais de Curitiba com 120 rodas de leitura. Também é dele o projeto “Experiência Portátil” (2014), no qual realizou intervenções em dança nas linhas de transporte público de Curitiba. Dirigiu e atuou no solo “Remake da minha Vida” (2017), onde desenvolveu uma pesquisa autoficcional em dança-teatro. Seu mais recente trabalho como bailarino foi em “Uma Casa de Poesia” (2018), espetáculo dirigido por Eddie Martinez, bailarino da Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.
Ficha técnica
As Cidades Invisíveis
Inspirada na obra de Ítalo Calvino
Uma realização do Agora Coletivo em parceria com a Híbrido Produções e Plateia Produções Artísticas.
Roteiro e direção: Renato Sbardelotto| Intérpretes-criadoras: Ana Ferreira, Fabiane de Cezaro, Flávia Imirene e Vivian Schmitz| Textos: Ana Ferreira, Fabiane de Cezaro, Flávia Imirene, Vivian Schmitz e Renato Sbardelotto| Interlocução e amadrinhamento: Lía Mariana Gómez Spatakis| Direção musical e preparação vocal: Karla Izidro| Preparação Corporal: Renato Sbardelotto| Figurino: Ailime Huckembeck| Iluminação: Lucas Mattana| Cenário: Renato Sbardelotto| Estandartes: Manu Assini |Maquiagem: Lilian Marchiori | Ilustração e Design Gráfico: Daniel Lourenço| Fotos: Eli Firmeza| Assessoria de Comunicação e Imprensa: Fernando de Proença| Direção de Produção: Renato Sbardelotto| Produção Executiva: Michele Bittencourt| Assistência de Produção: Jhon Booz
Classificação indicativa: 14 anos
Serviço
As Cidades Invisíveis
De 10 a 27 de Maio
Local: Teatro Cleon Jacques
(Rua Mateus Leme, 4700 – São Lourenço)
Sextas, Sábados, Domingos e Segundas às 20h.
Sextas e Segundas também às 10h.
Sábados e Domingos também às 16h.
Entrada Franca
* limite de 40 pessoas por sessão.