por Oberlan Rossetim
“Vai logo buscar o jornal para o seu pai!”, gritou-lhe a mãe.
Albertinho levou um susto. Não tanto pelo grito, mas pelo o que a palavra “pai” causou em seu medo adormecido pelo vai e vem do seu carrinho de brinquedo.
Nunca soube porquê sentia tanto pavor.
Contou um dia a uma tia já falecida que seu pai sempre fora pouco disposto a conversar com ele sobre coisas feias, como as minhocas. Com seu pai só aprendeu sobre boas maneiras, balé e xícaras de chá coloridas.
Albertinho sentia falta não do pai, mas do que estava oculto nele, daquilo que talvez nem coubesse na família.
Buscou o jornal correndo. Ofegante, entregou-o ao pai junto com as perguntas que sempre quis fazer a ele, sem poder.
Os escuros da vida chamavam a atenção de Albertinho como um contrapeso ao seu nominho. Sentia-se mimado pelo modo como lhe chamavam.
Queria, mesmo pequenino e cheio de delicadezas, ser Alberto. Assim , duro, seco, raso e direto.
Se eu fosse só Alberto, eu me encaixaria no mundo (ao menos nesta família) como um prego na madeira, pensou.
Mas ele era gordo de ser querido. Era enfermo de pegarem no colo com a linguagem.
Albertinho!
Albertinho!
Albertinho!
Ele sentia medo de nunca poder crescer, mesmo já sabendo amarrar os próprios sapatos desde muito cedo.
Aprendi a amarrá-los muito antes do que esperam de uma criança. Mesmo assim não consegui tornar-me Alberto, pensava Albertinho.
Ele leu certa vez o nome Albertão em um livro, daqueles que usava para ser outro.
Começou, então, a amar ser Albertinho.
Seu pensamento antes dilatado pelo desejo de transformar-se – e agora satisfeito feito o azul ao sentir as carícias das nuvens decidiu:
“É melhor ser Albertinho do que Albertão. Prefiro ser do tamanho que me faz agradável do que do que me faz de ferro, inatingível.”