por Clóvis Rossi
Dos 8 presidentes que assumiram pós-1985, 2 estão presos e 2 foram afastados
A prisão de Michel Temer nesta quinta-feira (21) deixa o Brasil na seguinte situação constrangedora: dos oito presidentes que assumiram o cargo desde a redemocratização de 1985, dois estão presos (Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, Temer) e dois foram afastados do cargo em processos de impeachment (Fernando Collor de Mello e Dilma Roussef).
Para não mencionar Tancredo Neves, eleito indiretamente e que nem chegou a tomar posse. Na véspera dela, baixou ao hospital e dele só saiu para outro hospital e deste para o cemitério.
José Sarney, que assumiu no lugar de Tancredo, não sofreu impeachment formal mas foi popularmente cassado, tal o desprestígio com que deixou o cargo.
Dilma Rousseff, então, sofreu os dois “impeachments”: o de facto e o da rua, caracterizado por um pico impressionante de impopularidade.
O mais recente eleito, Jair Bolsonaro, já sofre um desgaste inédito em apenas dois meses e meio de governo, segundo a pesquisa que o Ibope divulgou nesta quarta-feira (20).
Tudo somado, tem-se uma de duas hipóteses (ou talvez ambas): ou a política brasileira apodreceu de uma maneira absurda ou foi amaldiçoada por Deus, para os que acreditam Nele. Da lista de presidentes, o único que parece imune à total desgraça é Fernando Henrique Cardoso, que nem foi afastado prematuramente nem está preso.
Só que não: não dá para esquecer que FHC sofreu um, digamos, “impeachment” branco de seu próprio partido, que, em todas as campanhas eleitorais depois de sua Presidência, fez questão de escondê-lo com o maior zelo, como se ele fosse tóxico.
Quem, como eu, não crê em bruxas, fica obrigado a constatar que a mais importante reforma de que o Brasil necessita é a a da política. Não adianta uma reforma das regras. Ou há uma mudança profunda de mentalidade no mundo político —e entre os eleitores, sejamos francos – ou fica aberta uma autopista gigantesca para aventureiros de todos os naipes.
Seria salgar a ferida já aberta pela decadência visível a olho nu.
*Publicado na Folha de S.Paulo