17:41A velha política

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário (http://www.oinsultodiario.com/ )

Jair Bolsonaro elegeu-se combatendo a “velha política”, a dos acertos, da troca de cargos, da propina em obras e contratos, em suma, o toma lá-dá cá da roubalheira explícita. Em seu benefício diga-se que ele nunca fez a “velha política”. Mas não fez qualquer política, velha ou nova. Deputado, ficou três décadas no gabinete, não brilhou em comissões, nem atuou no plenário da câmara dos deputados, afora uma ou outra ocasião em que defendeu torturadores e ofendeu colegas.

Não se conhece projeto de lei ou parecer relevante dele como deputado. Acontece que, ao contrário do que imaginam os brasileiros que o elegeram, sua eleição não acabou com a “velha política”, pois os atores desta continuam no Congresso, seja com o pelo das velhas raposas, seja com o pelo lustroso das novas raposas. Em outras palavras, a “velha política” continua no Congresso mesmo depois do tsunami bolsonárico. Bolsonaro tem problema com a “velha política”?

Não é bem assim. Bolsonaro tem problema com a política, sem mais nem menos. Não tem traquejo, não tem jeito, não tem gosto, não tem flexibilidade. Os advogados Renato Kanayama e Roberto Nunes de LIma Filho comentavam hoje a linguagem corporal do presidente chegando ontem na câmara, portando a mensagem da previdência dos militares: como que se esgueirava na extrema lateral do grupo que o acompanhava, roçando a parede, esquivo e desconfortável como sempre.

Bolsonaro sequer incorporou a percepção de seu espaço privado, corporal, a aura sensível, embora invisível, que se projeta dos que detêm o poder. A linguagem corporal diz muito da persona de Bolsonaro. Mas esta persona terá que fazer concessões à “velha política”. E fazer logo, se quiser aprovar suas reformas, empacadas na câmara pela falta de interlocução e de trabalho corpo-a-corpo – leia-se toma lá – dá cá. O presidente é um misto de rainha da Inglaterra com general de república bananeira.

Como seria esse voltar à – indispensável, orgânica e endógena – “velha política”? Lula também quis isso. Logo percebeu que teria que ceder. Cedeu um pouco com o mensalão, alugando deputados e senadores. Não funcionou. Então deu em comodato aos políticos largas fatias da administração pública. Quase funcionou. Então surgiram os procuradores da Lava Jato e o ex-Sergio Moro. Jair Bolsonaro está nessa encruzilhada que só dá para dois caminhos: os da “velha política”.

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