Sapatos de Auschwitz, por onde terão andado
enquanto seus donos, vivos,
carregavam nos pés
a necessária couraça?
Aqui, um calçado austero
pertenceu a um rapaz
que amava uma polaca
que tinha sonhos de casar.
Este outro é de um atleta
nadava no frio Wista
colecionando as medalhas
que sonharia ganhar
(não fosse o sonho cortado).
Ali, o dourado salto
de um sapato de senhora.
Dançou em salões de baile
com o noivo amante marido
da dona que o tinha aos pés.
Acompanhou cada sonho
da noiva amante senhora.
Que fim levaram esses sonhos?
Sapatos de Auschwitz, que chãos terão pisado
em quantos bailes dançado
quantos desfiles marchado?
Se falavam entre si
naqueles tempos ditosos
diziam de amor e paz,
de trabalho, de esperança,
de todo sonho a sonhar.
Agora, silenciosos,
deixam de matraquear
por ser muito triste a história,
que teriam pra contar.