Da Tribuna do Paraná
Maestro paranaense Waltel Branco morre aos 89 ano
Morreu há cerca de duas semanas o músico paranaense Waltel Branco, um dos principais músicos e maestros do mundo, aos 89 anos. Ainda sem causa conhecida, a morte do maestro estranhamente não foi comunicada pela filha, com quem morava há cerca de um ano em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Conhecido internacionalmente por ter sido o compositor da trilha sonora da Pantera Cor-de-Rosa, ele era admirado por músicos de vários estilos e tem uma extensa produção musical em sua carreira de quase 70 anos.
O jornalista paranaense Felippe Aníbal está escrevendo a biografia do maestro e ficou consternado com a notícia. “Waltel era um ser-humano extraordinário e um gênio criativo. Compôs até o fim. Deixa um legado inestimável, maior do que se imagina: quanto mais se pesquisa sobre o maestro, mais se descobre sobre sua obra”, contou o jornalista, que tem 40% da obra já escrita.
Para escrever o livro ouviu dezenas de músicos e todos referendavam o nome de Waltel como como um gênio da música. “Para os mais de 30 músicos que entrevistei até aqui, ele era uma unanimidade, não só como compositor, como instrumentista ou como regente, mas como pessoa”, afirmou.
“Eu queria concluir o livro com Waltel ainda vivo. Infelizmente, não foi possível. Resta-me, agora, deixar um material que faça jus à história do velho maestro”, concluiu Aníbal.
Quem era Waltel
Nascido em 22 de Novembro de 1929, em Paranaguá, litoral do Paraná, Waltel teve o primeiro contato com a música junto com a religião. Seus estudos musicais se consolidaram no período em que esteve no seminário, com o chileno Joquín Zamacois. Entre seus mestres da época, nomes como Bento Mossurunga, padre José Penalva, Jorge Koshag, Stanley Wilson e Alceo Bocchino. Em 1949 se mudou para Curitiba com seu irmão, mesmo ano em que foi par ao Rio de Janeiro e em seguida para Cuba, onde aprofundou seus conhecimentos musicais.
É considerado um pioneiro na criação de estilos musicais, como o jazz fusion. Morou também nos Estados Unidos, teve atuação decisiva na criação da Bossa Nova, fez parcerias com músico como João Gilberto, um dos percursores do gênero. Morou também na Europa e Asia, e especializou-se em trilhas sonoras. Trabalhou com Nat King Cole e outros nomes importantes dos Estados Unidos. Conheceu o maestro Henry Mancini e foi um dos compositores da icônica trilha sonora da Pantera Cor-de-Rosa.
Ao todo compôs mais de 5000 composições, arranjos e colaborações. Já tocou com os maiores nomes do Brasil, como Dorival Caymmi, Nana Caymmi, João Gilberto, fez arranjos para Roberto Carlos, Cazuza, Tim Maia, Djavan, Cartola, Gal Costa,Maria Creuza, Vanuza, Mercedes Sosa, Astor Piazzola, Zé Keti, Peri Ribeiro, Sérgio Ricardo e Tom Jobim.
Em 2012 recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) como compositor, arranjador e multi-instrumentista paranaense. Waltel transitou por inúmeros ritmos populares – do samba-canção à Bossa Nova, do jazz fusion à MPB, do samba às trilhas de novela – ao longo de sua carreira.
O desaparecimento do maestro Waltel deixa uma imensa lacuna na música brasileira e internacional. Raramente viajava nos últimos tempos, dada a idade avançada. Encontrei-o, ainda no início do ano, em uma das mesas do Bar do Maneko, na Alameda Cabral. Era noite de um dia da semana qualquer, mas acompanhado de ninguém menos que o amigo jornalista de tantas epopéias, Adherbal Fortes de Sá Jr. Conversamos, vagueamos sobre os rumos musicais de um país que viveu seu auge com a Bossa Nova – cenário em que Waltel teve um papel preponderante, como diz a anotação acima e tão bem escrita. Apesar da estranheza de o falecimento só repercutir duas semanas depois, fica, assim mesmo, nosso preito e gratidão pelo tanto que o genial maestro – comparável a Tom Jobim – deixou como legado.