por Drauzilo Varela
Voltamos a falar no ensino do criacionismo nas escolas. A mania de andar para trás teima em nos perseguir.
Até 1859, quando Charles Darwin publicou o livro sobre a origem das espécies, todos acreditavam que Deus as havia criado num único dia.
Essa crença começou a ser questionada no século 19, época em que os museus ingleses passaram a exibir plantas e esqueletos de animais já extintos. Como justificar o desaparecimento de tantas espécies tão semelhantes às que ainda povoavam a Terra?
A explicação corrente era a de que a ira divina exterminava periodicamente algumas espécies para criar outras, parecidas com as anteriores.
Darwin entendeu que a ciência devia estudar a grande variabilidade existente entre os indivíduos da mesma espécie, característica que não era levada em consideração pelos naturalistas da época.
Suas observações sobre os pássaros das ilhas que visitou a bordo do Beagle, bem como a leitura dos trabalhos de Malthus a respeito da finitude dos recursos naturais, levaram Darwin a concluir que a vida é uma eterna competição pelo acesso a eles, na qual os indivíduos que não se adaptaram às exigências do ambiente foram eliminados por seleção natural.
Como consequência, todos os seres vivos deviam ter ancestrais comuns. O homem, por exemplo, seria descendente do mesmo ancestral que deu origem aos demais primatas.
Imaginem o furor que essa ideia provocou na Inglaterra vitoriana e no mundo religioso. Negar que fôramos criados à imagem e semelhança de Deus era uma blasfêmia inaceitável (ainda hoje considerada como tal por muitos religiosos).
Desde então, a teoria que Darwin enunciou naquele tempo foi exaustivamente testada e confirmada. O conceito de mutação gênica, a descrição da molécula de DNA e as descobertas da genética e da biologia molecular nos séculos 20 e 21 demonstraram que a seleção natural está presente até nos mecanismos moleculares das funções fisiológicas das células.
Theodosius Dobzhanski, um dos maiores geneticistas do século passado, afirmou: “Nada em biologia faz sentido senão à luz da evolução”.
A seleção natural é um mecanismo universal que explica a evolução da vida na Terra e em qualquer planeta em que venha a ser encontrada.
Ao contrário do pensamento científico, o religioso está alicerçado na fé. Como não preciso de experimentos para provar que Deus existe, que Jesus Cristo foi seu filho e que a vida eterna é o nosso destino, posso crer que a Terra tem 10 mil anos e que Eva foi criada a partir de uma costela de Adão.
Nada contra os crentes, a ciência não é a única forma de entender o mundo, as religiões procuram fazê-lo por outros caminhos. No entanto, assim como os cientistas têm obrigação de respeitar crenças alheias, os religiosos não devem se opor ao conhecimento científico.
O problema não está no ensino do criacionismo como pensamento religioso que ainda influencia muitas pessoas, mas em apresentá-lo como alternativa em pé de igualdade à evolução das espécies por seleção natural.
Questionar a veracidade da teoria da origem das espécies enunciada por Darwin e Wallace há mais de 150 anos, desculpem, é ignorância. É o mesmo do que duvidar da gravitação universal de Newton, colocar outra vez a Terra no centro do universo sem levar em conta Copérnico e Galileu, negar a relatividade enunciada por Einstein ou a teoria quântica de Max Planck.
A Terra não tem 10 mil anos, mas 4,5 bilhões. A vida surgiu a partir das moléculas primordiais de RNA que se formaram há uns 4 bilhões, assim que o planeta esfriou. Chimpanzés e bonobos compartilham conosco mais de 95% dos genes que herdamos de nosso ancestral comum. Não fosse um meteorito cair na península de Yucatán, no México, há 65 milhões de anos, os dinossauros ainda dominariam a Terra e, nós, dificilmente estaríamos por aqui.
Há os que preferem crer que a mão de Deus deu origem ao homem e a todos os seres vivos. Alguns não negam as evidências da evolução, mas propõem que Ele está por trás de todas as mutações gênicas adaptativas que selecionaram as espécies. Para eles, admitir que surgimos como resultado dos acasos envolvidos na seleção natural não faz sentido.
Para mim, imaginar que um ser superior criou tudo num passe de mágica reduz a complexidade da biologia que através de mecanismos seletivos chegou ao único animal que se atreveu a desvendar os mistérios da criação da vida.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Bonobos, quem são os bobos?
Matemáticamente a Terra é o centro do universo. Se o universo é infinito qualquer ponto pode ser considerado o seu centro, afinal por um ponto passam infinitas retas/raios.
Agora quero ver quem tem um compasso que possa riscar o infinito e provar que estou errado.