por Bruno Boghossian
O Supremo e o Congresso deram uma “prensa” no governo Jair Bolsonaro. Em menos de uma hora de discussão, senadores aprovaram o aumento dos salários dos ministros do tribunal e penduraram uma conta de R$ 1,5 bilhão por ano para a União a partir de 2019.
A bomba orçamentária foi embrulhada para presente horas depois que o presidente eleito criticou a medida. Na manhã desta quarta (7), Bolsonaro havia dito que não era o momento de aprovar novos gastos. “O Judiciário, em um gesto de grandeza, com toda a certeza não fará tanta pressão assim por esse aumento de despesa”, declarou.
Cenas explícitas da política provaram o contrário. O presidente do STF atuou pessoalmente na articulação. Dias Toffoli ligou para senadores e reforçou o compromisso de derrubar o auxílio-moradia em troca do aumento —embora haja razões de sobra para acabar com o privilégio, sem qualquer recompensa.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), fez uma votação a jato. Na véspera, ele sorrira com desdém ao ouvir que o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeria uma “prensa” no Congresso para aprovar medidas de seu interesse.
Parlamentares usaram a desculpa da harmonia entre os Poderes para justificar o presente. Renan Calheiros (MDB), que no passado travou o projeto que dava aumento aos ministros do tribunal, decidiu votar a favor da proposta. “Vou ajudar a não trincar as relações”, discursou.
Além do reajuste dos salários para R$ 39,3 mil no STF, a medida tem efeito cascata no funcionalismo público e no restante do Judiciário. Os estados ficarão com uma conta extra de R$ 2,6 bilhões por ano. O projeto ainda precisa da assinatura de Michel Temer, mas o presidente participou da costura do acordo.
Ao justificar sua oposição ao tema, Bolsonaro lembrou a crise econômica. “Estamos numa fase de ou todo mundo tem ou ninguém tem”, disse. Em seu segundo dia em Brasília como presidente eleito, ele viu uma matemática diferente em prática.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Uma aumento supremo……