Os revólveres eram de prata, com cabo vermelho. Enfiados em duas cartucheiras penduradas num cinto branco, estavam lá dentro da caixa na vitrine da loja. Eu passava todo dia e ficava olhando de longe – porque, por algum motivo que até hoje não sei, não entrava, ficava na calçada. Medo. No bar ao lado uma vez vi um trabuco de verdade no balcão de vidro. Zé do Bode era o dono e acho que deixava ali para que nenhum bandido se atrevesse a tentar algo. Naquele lugar Dunga tomou o último gole antes de meter uma bala na cabeça. Achou que tinha matado por ciúme a namorada. Ela só se feriu. Dunga era filho do dono do cinema da vila, o Dom Bosco. Naquela tela foi que me apaixonei pelos revólveres dos mocinhos dos faroestes americanos e mexicanos. Eu queria aquele dois prateados que estavam numa caixa de papelão que abrigava também as espoletas. Estrela era a marca. Nunca tive, mas um dia peguei o 32 do meu pai e dei um tiro dentro de casa, quando estava sozinho. Ninguém soube. Ainda bem que não fiz roleta russa, uma tentação.