14:35Intervenção mimilitar

por Renato Terra

Centenas de estudantes fecharam a avenida Paulista hoje de manhã exigindo intervenção militar para completar o álbum da Copa. Em uma das pistas, um grupo de mães escreveu no asfalto: “Forças Armadas, ajudem meu filho a conseguir as figurinhas brilhantes”.

Numa ação orquestrada, um senhor estacionou um tanque em frente ao Pacaembu para impedir a venda de figurinhas brilhantes do Pelé a preços mais caros que o diesel. “Na época da ditadura, tudo era melhor. A gente atacava com Gérson, Rivellino, Tostão, Jairzinho e Pelé dentro de campo. E todo brasileiro conseguia completar seus álbuns”, bradou indignado.

Em seguida, um áudio de WhatsApp provocou pânico ao espalhar que a Panini, em represália ao ato, iria colocar figurinhas de Pabllo Vittar em todos os pacotinhos. Houve correria. Cinco pessoas desmaiaram. “Precisamos de intervenção militar na Panini”, conclamou um homem de bem, enquanto atirava para cima para acalmar a multidão.

Afogueados com a repercussão do protesto, manifestantes expandiram suas reivindicações. “Forças Armadas, ajudem o meu filho a passar de ano”, implorou um pai desesperado.

“No tempo da ditadura, não havia um repetente! A nossa nota jamais foi vermelha”, completou, emocionado.

Com energia, uma senhora abriu a faixa “Intervenção militar no meu condomínio” e explicou: “As empregadas piraram com essa ditadura do empoderamento. Não dormem mais no serviço e usam o elevador social sem cerimônia. Nossos valores estão todos invertidos”, desabafou.

(pausa para a moral da história)

Olá amiguinhos. Na coluna de hoje, aprendemos que muita gente quer intervenção militar para proteger seus privilégios individuais. E querem delegar aos militares um problema que é nosso: a corrupção tem que ser combatida no dia a dia por nós, por dentro da sociedade, até que isso se reflita no poder. Sem perceber, quem pede intervenção está estimulando a preguiça em sua forma mais ampla: a preguiça de exercer nossa cidadania diária.

CONTADOR

Estamos trabalhando há 86 dias sem saber quem matou —e quem mandou matar— Marielle Franco.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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