por Ruy Castro

Deu nos jornais. Michael Rotondo, 30 anos, cidadão de Camillus, no estado de Nova York, está sendo forçado por seus pais, Mark e Christina Rotondo, a fazer o que, um dia, todo filho adulto deveria fazer: sair de casa, ir morar sozinho ou com alguém e cuidar do próprio nariz. Como esta solicitação não é de hoje e Michael nunca se mexeu para ir embora, os velhos foram a um juiz em Nova York, que sustentou o pedido deles e deu até o dia de hoje, 1º de junho, para Michael juntar seus tarecos e ir para o diabo que o carregue.

O caso de Michael está longe de ser excepcional. Alegando dificuldade para arranjar emprego e se sustentar sozinhos, muitos jovens têm se deixado eternizar na casa dos pais ou apenas da mãe até idade muito além do razoável. Os psicólogos chamam a isto “complexo de Peter Pan”, significando uma dificuldade de tais jovens para superar a adolescência e encarar a maturidade com todos os seus riscos. Alguns pais ou mães preferem classificar de folgados os portadores do dito complexo —porque eles não contribuem com as despesas da casa, não lavam suas próprias cuecas e têm orgasmos em voz alta quando recebem a visita íntima da namorada.

Michael está nesta situação. Não sabe fazer nada, nunca teve de bater ponto e sequer precisou sair de casa para ter vida sexual. O interessante é que, embora aparente certa dificuldade para falar e outra, maior ainda, para concatenar duas ideias, Michael, com seu visual de foragido retardado de Woodstock, dá sorte com as moças.

Uma pizzaria de sua cidade ofereceu-lhe um emprego que lhe permitiria alugar um apartamento sem muitos luxos. Mas Michael está na dúvida —besuntar os dedos com mozarela de búfala não faz o seu gênero. Além disso, a ideia de ter de embalar suas coisas, inclusive as armas, o deixa deprimido.

Sim, Michael tem armas em seu quarto. Mas, nos EUA, qual jovem maluco não tem?

*Publicado na Folha de S.Paulo