5:55Elsinho Mouco e a vírgula

por Alvaro Costa e Silva

Se não parar na cadeia depois (e mesmo assim, em muitos casos, a cana é breve e leve, pois pode ser curtida na própria casa), dar uma de marqueteiro é das melhores e mais bem pagas profissões que se pode exercer no país da informalidade, do emprego intermitente e dos milhões de “desalentados” —que é como o IBGE define as pessoas que deixaram de procurar uma vaga de trabalho porque avaliam que não vão conseguir.

Elsinho Mouco não possui cargo formal no governo, mas tem um gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, próximo das salas dos ministros Eliseu Padilha Moreira Franco, o núcleo duro do poder sob Temer. A revista Época fez um perfil dele, por Bela Megale, no qual se afirma que Elsinho usa gel nos cabelos, não é um profissional de primeira linha, não tem grandes campanhas no currículo e nenhum candidato venceu uma eleição graças a sua inventividade.

Antes mesmo do impeachment de Dilma, aproveitou o dístico positivista da bandeira nacional, “Ordem e Progresso”, para ser o mote da mudança. Modesto, espalhou que a sacada tinha sido de Michelzinho, o filho do presidente, na época com 7 anos. No auge da crise provocada pela delação do empresário Joesley Batista, soprou ao ouvido de Temer a frase “Não renunciarei”. Elsinho sugeriu usar o “Tem que manter isso” como bordão publicitário das realizações reformistas. Mas — que pena!— não agradou.

O marqueteiro está por trás da intervenção na segurança do Rio de Janeiro, negociada nos bastidores como uma oportunidade para deslanchar a campanha à reeleição de Temer, um dos presidentes mais impopulares da história. E do slogan escolhido para exaltar os dois anos do patrão no cargo —“O Brasil voltou, 20 anos em 2”—, o qual, interpretado como ato falho, foi cancelado.

Como síntese, é perfeito: resume o período de Temer no governo a uma vírgula. Mal empregada.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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