por Dirceu Pio
Confesso que já tive algum respeito por eles – os antigos membros do MST!
Refletia uma declaração do antropólogo Darcy Ribeiro em sua célebre entrevista a O Pasquim tão logo retornou do exílio (1976): “As elites brasileiras – disse ele – nunca permitiram que se desse de graça um só palmo de terra; até o terreno do cemitério tem de ser pago”.
“Nos Estados Unidos – continuou – na colonização do Oeste, o governo entregava o título da terra a quem conseguisse se manter nela resistindo aos ataques de índios e saltimbancos”.
Darcy Ribeiro era do tempo da esquerda ideológica: quando se manifestava, com certeza o fazia para denunciar uma ignomínia…
Passei a achar, portanto, que a distribuição da terra poderia servir a um projeto de desenvolvimento nacional mais justo e mais acelerado… E o MST poderia levar as elites a enxergar esse caminho…
O processo de urbanização do Brasil foi, contudo, um exemplo de irracionalidade e indecência… Milhares e milhares de pequenos agricultores foram expulsos de suas terras sem nenhuma contemplação; quem tentou resistir, morreu a tiro de carabina…
EM FORMAÇÃO
Quando me mudei para o Paraná, em 1976, o país vivia o ciclo final do processo de urbanização. Presenciei o nascimento do Movimento de Agricultores Sem Terra em Cascavel, no Oeste do Paraná, região das terras mais férteis do Continente.
Sob inspiração da chamada Pastoral da Terra, braço político da ala da Igreja Católica que inventou a Teoria da Libertação, o MST nascia para garantir a realocação das milhares de famílias que começavam a ser desalojadas de suas terras para formação do lago da maior hidrelétrica do mundo, Itaipu…
Como repórter a serviço dos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde – ambos conservadores – fui muitas vezes escalado para cobrir os eventos que o MST começava a produzir – acampamentos, manifestações, marchas em prol da Reforma Agrária, formação dos primeiros assentamentos….
Antes disso, eu havia presenciado os estertores da violenta ocupação, pela Colonizadora Norte do Paraná, de Oscar Martinez, de uma área que englobava mais de 30 municípios nas vizinhanças de Assis Chateaubriand e Palotina, área que ficou conhecida como Grilo Santa Cruz… Havia uma ilha em meio ao Rio Piquiri onde eram “guardados” de 200 a 300 jagunços a serviço da colonizadora e eu vi muita atrocidade…
Vi casas com paredes picotadas de bala; vi homens sem orelhas arrancadas que foram pelos jagunços; vi famílias aterrorizadas por balas de metralhadoras disparadas de avião; vi crianças mutiladas por cães enlouquecidos por injeções de psicotrópicos…
E havia denunciado, com descrição pormenorizada, o trabalho escravo mantido pelo grupo Atalla em suas fazendas em Porecatu com a conivência de vários governos paranaenses – Ney Braga, Jayme Canet e José Richa, o pai do atual governador do estado, Beto Richa…
BRASIGUAIOS
Havia também incursionado pelo interior do Paraguai para ver de bem perto os intermináveis conflitos entre nativos e brasileiros, já chamados de “brasiguaios”. Não havia como deixar de me compadecer pelo drama daqueles milhares de agricultores que sofriam todo tipo de hostilidade por ousar atravessar a fronteira e perseguir o sonho de ter um pedaço de terra pra plantar ainda que fosse em território estrangeiro já que em sua pátria isto lhes foi negado…
“Uma vez – narrei – um agricultor brasileiro foi obrigado a desfilar nu, puxando uma carroça por um fio de nylon e um anzol enterrado na ponta do nariz, pelas ruas de Hernandarias, uma daquelas pequenas cidades paraguaias da região que era desbravada por brasiguaios”…
Acompanhei os brasiguaios até a expulsão, em 1980, e fui o primeiro jornalista a contar a epopeia da ocupação do grande assentamento o no interior de Ivinhema, no Mato Grosso do Sul, hoje o próspero município de Novo Horizonte do Sul…
Contei na reportagem publicada pelo Jornal da Tarde a vida perigosa do desbravamento – meninos desenrolaram em minha frente e na frente do fotógrafo Carlos Ruggi o couro de uma sucuri de mais de 10 metros de comprimento, enquanto um agricultor exibia a pele e os dentes de duas onças que ele matou a facão, uma depois da outra no mesmo dia; mostrei ainda o entusiasmo do comércio de Ivinhema com a chegada dos novos moradores….
Todos descobriam ali o quanto gente com disposição pra plantar e colher pode fazer bem à economia de uma cidade….
O SONHO FOI PERDIDO
Mas o tempo passou e o sonho do “pedaço de terra para plantar e colher” perdeu-se pelo meio do caminho… José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra, já denunciou que durante o governo Dilma Rousseff foi consolidado o abandono da reforma agrária: “O governo elegeu como modelo de desenvolvimento no campo o agronegócio. Além disso, houve acordos com a bancada ruralista no Congresso que fizeram com que o governo sacrificasse não só o assentamento de famílias sem-terra, como também a demarcação de terras indígenas e a regularização de áreas de comunidades remanescentes de quilombos. Houve um retrocesso imenso”.
Na verdade, o MST hoje não chega a ser sequer uma caricatura daquilo que tentou ser, ou seja, um movimento pacífico de pressão pela reforma agrária…
Transformou-se num braço armado de lideranças corruptas (Luiz Inácio, Dilma Rousseff), nada mais que isso… E o que é pior: suas lideranças – Guilherme Boulos, José Rainha, João Pedro Stédile – não se constrangem nenhum pouco em defender o emprego de métodos nazi-fascistas para evitar que seus bandidos de estimação sejam punidos… Transformaram-se em Bandoleiros Agrários…
Há informações seguras de que acampamentos de “Sem Terra” no interior de Minas Gerais têm alimentado milícias armadas que invadem fazendas, prendem e espancam os proprietários e roubam objetos, insumos e implementos de valor…
Não tenho por eles mais nenhum sentimento de admiração ou piedade… Eu mudei? De maneira nenhuma, eles é que mudaram…
Eu sou Bolsonaro.
Depois dessa aula, sou mais ainda.
Registre-se que o MST teve como embrião o movimento dos barrageiros expulsos pela Usina de Itaipu. tanto os que ficaram desempregados com o final da obra quanto pelos que tiveram suas terras alagadas, as mais férteis do mundo, desumanamente indenizados. No Paraná, o primeiro assentamento foi o de Querência do Norte. Lá, um dos que deu certo. Os ditos “militantes” do MST de hoje, esse chefiado pelo Stédile, não sabem abrir uma cerca de arame farpado, nem tirar água de poço. Quando compram uma enxada, pede que o cabo seja bem comprido. Assim ficam mais longe do trabalho.
Muito bom artigo. Objetivo, imparcial, verdadeiro.
Excelente artigo/análise de Dirceu Pio, além de tudo muito bem escrito, o que demonstra que não perdeu o posto de ser um dos melhores textos da imprensa paranaense, desde os tempos em que foi chefe da sucursal do Estadão e do JT em Curitiba. Leitura recomendável aos que não se dispõem ao diálogo de surdos, quando ambos os lados são os donos das verdades absolutas.
Para variar, estou com você, prezado Pio. Parabéns pela análise-relato que muitos precisavam ler.
Agradeço comovido os comentários de incentivo e apoio…São dessas coisas que nos fazem enxergar o quanto foi certa a escolha há mais de 50 anos atrás da profissão de jornalista….
Belíssimo artigo, parabéns ao jornalista Pio. Nos anos 1980 trabalhei em uma empresa que alugou um grande galpão na CIC. O dono era sobrinho e advogado do Dr. Oscar Martinez. Ele sempre negou as atrocidades… Mas hoje, lendo este artigo, acho que quem tem razão é o jornalista Dirceu Pio. Afinal, ele viveu essa realidade, não tem motivos para mentir!
Caro Birn Neto…passei quase um mês lá, no chamado Grilo Santa Cruz, uma área colonizada com violência pelo Oscar Martinez, escrevi em seguida páginas e páginas para os jornais O Estado de São Paulo e O Estado do Paraná, e nunca fui desmentido em uma só vírgula….Abraço e obrigado por acreditar em meus escritos….
Atalla – Porecatu
Mal contada a história de trabalho escravo em pleno governo José Richa