Por Ivan Schmidt
Aos poucos embora em ritmo morno os principais candidatos ao governo do Estado vão arrumando sua matalotagem para a disputa da eleição, cujo primeiro turno será realizado no dia 7 de outubro, primeiro domingo daquele mês. Assando a costela de longe, em fogo brando, os pré-candidatos e seus colaboradores próximos, suponho, também não querem liberar aos adversários maiores informações sobre os planos de governo, evitando o esvaziamento ou a crítica acerba aos projetos de maior impacto político e social.
Trata-se a meu juízo de um jogo de gato e rato, ainda com ações amenas e conversas dispersivas sobre a composição das coligações partidárias especialmente para as eleições majoritárias para o governo, Senado e Presidência da República.
É nesse picadeiro que evoluem algumas personalidades marcantes da vida política paranaense na atualidade, como o ex-governador Beto Richa, a saber, um político que pelo visto despreza a política como atividade menor, mas que se tornou numa das cartas de maior valor (talvez a maior) no intrincado pôquer em que se transformou a eleição do novo governador(a) do Paraná.
Nesse espaço da disputa há também lugar para o senador Roberto Requião, que na condição de jogador manhoso na dissimulação de suas reais pretensões segue aguardando o momento certo para lançar seus dados, mantém o suspense sobre se será candidato à reeleição ao Senado ou se tenta mais uma vez a cadeira de governador, a qual já alisou por três mandatos.
O certo é que a persona política de Requião, um animal político por excelência, desperta diferentes reações de parte do eleitor (e ele sabe disso) – reações que vão do ódio à paixão incontida – da mesma forma como é tratado o ex-presidente Lula, hoje habitando um acanhado cômodo na cobertura da sede da Polícia Federal em Santa Cândida.
Também há lugar para o senador Álvaro Dias, pré-candidato à Presidência da República, desejo que vem alimentando desde a época em que governou o Paraná, quando nas últimas semanas do mandato, numa disposição afinal detonada pela cúpula do PMDB (diz-se que o principal oponente foi o governador paulista Orestes Quércia), ou seja, de substituir o deputado Ulysses Guimarães na presidência do partido diante do anúncio de sua desistência do cargo.
É claro que os dirigentes nacionais do partido, à época, logo desconfiaram do plano do então governador paranaense, ao ficar sem mandato devido “à renúncia da renúncia”, faria da presidência do PMDB uma alavanca poderosa para conquistar a indicação de candidato do partido ao Palácio do Planalto. Ainda aliado de Álvaro, a quem agradecia constantemente a eleição para o governo, em atitude belicosa e de confronto aberto com o governador paulista, Requião lançou o “Disque Quércia”, que muitos identificavam como o “Maluf do PMDB”, e uma adjetivação ainda mais estridente. Segundo as más línguas não se registrou uma denúncia sequer apesar da intensa divulgação na mídia, porquanto nenhuma das “entregas” foi dada ao conhecimento público.
O senador viu passar algumas décadas até realizar o sonho de se candidatar à Presidência pelo Podemos, um partido nanico e de pouca expressão num cenário tão vasto como o brasileiro, aparecendo nas pesquisas com índices variáveis entre 3% e 6%, causando certa inquietação ao ex-governador Geraldo Alckmin que teria a imensa satisfação de contar com os votos e o apoio de Álvaro.
Na eleição para o governo estadual, é pacífico afirmar que o peso do candidato presidencial terá grande relevância para os pretendentes ao Palácio Iguaçu, embora dê lugar a uma questão não apenas político-partidária, mas de ordem familiar, tendo em vista a candidatura do irmão Osmar Dias pelo PDT.
A direção nacional do PDT, que terá Ciro Gomes como candidato a presidente, já anunciou não ter a veleidade de criar problemas para Osmar em função do palanque presidencial no Paraná, onde Osmar não abre mão de apoiar o irmão mais velho, que persiste em afirmar que não dará apoio exclusivo ao mano, de olho vivo no apoio dos demais candidatos a governador.
Um imbróglio que desafia a capacidade de análise dos observadores políticos, posto que compreensível dada à abrangência de uma eleição nacional e, mais que isso, a vantagem significativa que o candidato terá ao contar com o apoio maciço de seu próprio Estado.
A costela assa devagar e como Leonel Brizola gostava de dizer “os alambrados estão sendo costeados” tanto pelos que buscam apoio quanto pelos que querem apoiar. O fogo ainda é brando, mas tudo indica que dentro de algumas semanas a brasa da fogueira começará a arder. Aguardemos.