Do blog O Insulto Diário, de Rogério Distéfano
Caro, tô chegando do supermercado Condor; não chamo de Côndor por falta do circunflexo. No caixa, depois do ritual bobo do ‘CPF na nota’ – um ano de coleta recebi R$ 259 da propaganda enganosa – passa o velhote, barbas longas e brancas naturais, traje de Papai Noel. Distribuía balinhas para todo mundo, crianças excluídas que naquela hora em supermercado só tem bebê de colo. Recebemos, todos, duas cada um.
Tirante a velhota, segura do poder do corega na firmeza da dentadura ou na força da dentição que contrastava com a escoliose, ninguém meteu na boca a balinha borrachuda. A mocinha do caixa foi além, me perguntava “será de verdade, será que não tem veneno? a gente ouve que fazem isso na saída de escola pra envenenar criança”. Concordei, mais preocupado com a velocidade da despesa que com o veneno das balas.
A mocinha insiste. “Veja como a gente ficou desconfiado de tudo”. Eu podia enveredar pela catilinária contra os políticos, Lula, Temer, louvar Sérgio Moro. Preferi calar, a companheira caixista podia ser petista, desses agressivos que foram ao Atuba que os pariu. Ofereci minhas balas à mocinha do caixa: “Tá querendo me envenenar?” Veja você, nesta altura da vida tenho cara de pedófilo envenenador. (Saverio Marrone)