por Célio Heitor Guimarães
Duas verdades ditas e reafirmadas pelo cineasta José Padilha não apenas no seriado “O Mecanismo”, presente na programação do Netflix, como também diretamente ao jornalista Pedro Bial, da Rede Globo: 1. O sistema judiciário brasileiro não funciona. Se funcionasse a Construtora (e corruptora) Odebrecht, que instituiu a corrupção organizada no Brasil, em boa parte da América Latina e em algumas unidades africanas, e saqueou desavergonhadamente todos esses países, não estaria em pleno funcionamento, com seus dirigentes cumprindo prisão no recesso de seus estrelados lares. E não apenas a Odebrecht, mas todas as suas congêneres, concorrentes-parceiras. 2. Não há inocentes no parlamento brasileiro. Não há ali ninguém que, de uma forma ou de outra, não tenha participado do esquema dominante. Ainda que seja através do que eles chamam de “inofensivo” Caixa 2. Se o sujeito for realmente decente e bem intencionado, não aceita ingressar na vida pública eleitoral do país. Esta é a conclusão de José Padilha, com a qual estou de pleno acordo, acrescentando que a patifaria estende-se também ao Executivo.
Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu um mandato como deputado federal. Não quis continuar na Câmara Federal, posto que, a seu ver, lá existiam (e continuariam existindo) “513 picaretas” (ato falho: esqueceu de excluir-se). Mas deve ter colhido ali boas lições para arquitetar o “Mensalão” e, posteriormente, o “Petrolão”.
Algum tempo atrás, nos idos de 2006, escrevi um texto publicado n’ O Estado do Paraná sobre o então senador Jefferson Péres, denominado “O pequeno grande homem”, cuja reprodução cabe aqui “à fiveleta”:
“Quanto mede o senador Jefferson Péres? 1,60m ou um pouco mais. Certo? Errado. Jefferson Péres é um gigante. Em decência, caráter, ética, coerência, coragem e indignação. ‘Avis rara’ do parlamento nacional, honra o Senado Federal tanto quanto destoa da grande maioria que ali habita, faz negócios, engana o eleitor e locupleta-se do poder.
“O amazonense Jefferson Péres está ainda no meio do mandato. Mas já começou a se despedir da vida pública. Por desalento e cansaço.
“No final do mês passado, ele subiu à tribuna, uma vez mais, para lamentar a atual situação do Brasil:
“ ‘Poderíamos não ter um barril de petróleo nem um metro cúbico de gás, mas poderíamos ser uma das potências mundiais em termos de desenvolvimento. O Japão não tem nada. Não tem petróleo, gás ou riquezas minerais. A Coréia do Sul também não tem nada disso, e nos dá um banho de desenvolvimento, não apenas econômico, mas também humano’.
“O plenário do Senado encontrava-se praticamente vazio. Os senhores senadores catavam votos nos seus Estados. Mas o bravo JP estava lá:
“ ‘Vejam que país é este! Aqui estamos com seis senadores, em pleno mês de agosto, porque estamos em recesso branco. Por que não se reduz a campanha eleitoral a trinta dias e transfere-se o recesso de julho para setembro? Ficaríamos com o Congresso aberto, a Casa cheia, até 31 de agosto. Faríamos trinta dias de campanha em recesso oficial, remunerado’.
“E prosseguiu:
“ ‘Estamos aqui no faz-de-conta. Como disse o ministro Marco Aurélio, este é o país do faz-de-conta. Fingimos que estamos fazendo uma sessão do Senado, estamos em casa sem trabalhar. Estou em Manaus há quase um mês, recebendo, sem fazer nada. Como se ter ânimo em um país com um presidente que é sabidamente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu no Brasil, e esse presidente está marchando para ser reeleito, talvez, em primeiro turno?…’.
“ ‘É desinformação da população?’ – indaga. E responde: ‘Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar, a grande maioria concordará que o presidente sabia de tudo. Então, votam nele sabendo que ele sabia. A crise ética não é só da classe política. Ela atinge grande parte da sociedade. O presidente vai ficar porque o povo quer que ele fique. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, mas inconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração pública, solene, do povo de que desvios éticos dos governantes não têm mais importância’.
“Em seguida, o anúncio, doído, sincero e profundamente lamentável, não só para os amazonenses, mas para todos os cidadãos de bem deste país:
“ ‘Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida pública. Vou apenas cumprir o meu mandato. (…) A classe política apodreceu. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que já participei, a pior legislatura da qual participei. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria respeitável, a quem cumprimento. Mas uma maioria, infelizmente, com nível intelectual e moral tão baixo como eu nunca vi. O que se pode esperar, não sei. De minha parte, cumprirei o meu dever até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar!’.”
O destino abreviou o caminho de Jefferson Péres e interrompeu a sua jornada. O senador faleceu no dia 22 de maio de 2008, e os homens e as mulheres de bem choram até hoje a sua ausência.
Parabéns pela matéria.
Bem lembrada a magestosa figura de Jefferson Pérez; suas palavras são terríveis e no entanto o que vemos hoje é mais terrível, é insuportável. Jefferson, no entanto, não bradou num deserto.
Pedro Simon:
Mas a investigação não pode parar aqui, não se pode encerrar o caso. É importante que a CPMI dos Correios, a CPI do Mensalão e a CPMI dos Bingos continuem a fazer o seu trabalho, que é muito importante. De onde veio o dinheiro? Que dinheiro é esse?
Achei os depoimentos dos representantes dos fundos de pensão uma reunião que me soou falsa. Não gostei daquela reunião. Não gostei das perguntas e não gostei das respostas. Foi uma reunião que pareceu mostrar que não sabemos a gravidade do que gira em torno dos fundos de pensão. Parece que a gente não sabe que em torno dos fundos de pensão estão os problemas mais graves e mais sérios que conhecemos.
Nos fundos de pensão giram bilhões, dinheiro exatamente dos funcionários do Banco do Brasil, da Petrobras e de outras companhias. É dinheiro público, só que na hora de funcionar, na hora de agir, na hora de andar, funciona como se fosse dinheiro particular, como se fosse um Banco privado.
Não se diga que o Banco Rural, que na minha opinião há muito já devia ter sido fechado, que desde a CPI do Collor já aparecia; na CPI do Banestado, houve a participação escandalosa do Banco Rural. Não se imagine que o Banco Rural esteja tranqüilo, sereno, não está nem um pouco preocupado com o dinheiro que emprestou ao PT. Não está, porque aquele é um dinheiro frio, aquele é um dinheiro que já tem compensação lá fora, já tem garantia lá fora e, por isso, entregou aqui dentro.
A pergunta que se faz é em relação ao Conselho do Banco, que fiscaliza qualquer empréstimo a partir de determinada importância. Convoque-se essa gente, para ver se deram o parecer sobre esse empréstimo. Empréstimo não houve que não tenha garantia anterior com o dinheiro depositado lá fora.
Acho que a CPI tem condições de avançar. Eu pedi e a CPI concordou e aprovou porque a CPI do Banestado foi um dos grandes escândalos do Congresso Nacional. Nenhuma CPI conseguiu provas tão abundantes, tão claras, tão precisas como a do Banestado. Então, ali nos porões do Senado, estão as provas que vieram da Justiça americana, que mandou a cópia das CC-5 e dos dólares enviados pelo fundo de corrupção, cujas provas estão hoje nos porões da CPI.
O Sr. Mentor, Deputado do PT, então Relator, não deixou que se apurasse. E a coisa foi tão absurda, o seu parecer tão ridículo, que não colocava o Banco Rural, e não foi aprovado. E se encerrou a CPI sem parecer.
https://bit.ly/2qr9ubP
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/12/10/aplaudido-de-pe-pedro-simon-despede-se-do-senado