21:58ZÉ DA SILVA

Na tela que cercava o terreno ele viu o número 61. Pensou em jogar no bicho. Do outro lado do estacionamento havia uma mata nativa no fundo do vale. Ele estava dentro do carro que estacionou naquela vaga delimitada por duas faixas verdes no chão pedregoso. Desligou tudo e sentiu um puxão no peito. A força era tanta que ficou com medo de atravessar o vidro do para-brisa do carro. Viu então saltarem da camiseta o tigre e a onça pintada que tanto o atraíram na loja de grife anos atrás. Os bichos, pensou, estavam levando sua força também? Os dois saltaram através do vidro e sumiram mata adentro. Ele ficou prostrado como se tivesse acabado de fazer sexo. Os olhos acompanharam as feras maravilhosas. Lentamente foi recuperando as forças, voltou para casa, se jogou na cama, apagou logo – e sonhou. Era um bicho e estava fazendo o caminho inverso dos dois da camiseta. Pulou para dentro do carro e nunca mais saiu dali – na cidade grande e devoradora.

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