De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário (http://www.oinsultodiario.com/)
Na prisão, fosse dado a leituras – não é defeito ter sono com livros -, Lula pode ler para a progressão da pena. O Brasil tem disso, a leitura na cadeia diminui a pena. Coerente o nosso sistema: gente letrada, culta, com doutorado, não precisa do benefício porque já leu bastante. E nunca vai preso, seu processo dorme na primeira instância mesmo.
Na realidade, a progressão da pena só veio para alfabetizar os pobres, iletrados e sem diploma que cumprem pena. A racionalidade é fantástica. A leitura faz gente melhor, tira o lado criminoso e selvagem do indivíduo. Por isso é que quem obtém a progressão com a leitura não volta a cometer crimes.
Lula está na metade do caminho. Não tem leituras e delinquiu, mas tem dezenas de doutorados, ainda que incautis causa. Chegou a presidente duas vezes e elegeu o poste dele duas vezes para a presidência – além de tantos postes e outras postas que elegeu e enriqueceu. Portanto não é um delinquente qualquer; segundo o MP é líder, “chefe de quadrilha”.
A coisa está feita, ele está preso, pelo menos até a próxima barafunda no STF. Definida sua condenação como inapelável na terceira, quarta, quinta e enésima instâncias, Lula pode aproveitar a progressão da pena com leituras. Melhor, leitura, uma só, a gramática. E para aprender uma coisa, uma só, a diferenças entre os demonstrativos ‘esse’ e ‘este’.
Lula conhece bem o terceiro, ‘aquele’, que são os outros, os golpistas, a imprensa canalha, o imperialismo americano, as zelite. Mas o ‘este’ é completamente desconhecido a Lula, que só usa o ‘esse’. Aquilo do nunca antes ‘nesse’ país. Sempre o ‘esse’, como ontem no discurso de despedida no sindicato dos metalúrgicos.
Foi esse, esse, esse o tempo todo, nenhum este para os amigos que estavam ali, próximos dele. Deve ter ranço psicopatológico no ‘esse’ de Lula: ele está tão no alto, tão elevado frente aos mortais, que ‘este’ para ele é ele mesmo. Até o Brasil, do qual é dono e salvador, é ‘esse’ país. Não se perca na gramática. Logo volta à presidência. Nos braços desse povo.